Os franceses recuperam uma normalidade tímida nesta segunda-feira (11), após 55 dias de políticas duras de distanciamento social em razão da pandemia de coronavírus, com a reabertura de lojas não essenciais e com a possibilidade de saírem às ruas livremente, ainda que o governo peça para não baixarem a guarda.
"Graças a vocês, o vírus regrediu. Mas ainda está aqui. Salve vidas, tenha cuidado", tuitou o presidente Emmanuel Macron, algumas horas antes do início do desconfinamento de uma população de 67 milhões de habitantes.
Com 70 óbitos em 24 horas, o menor saldo desde o início do isolamento em 17 de março, a França conseguiu retardar a disseminação do novo coronavírus e diminuir a pressão sobre os hospitais. O sistema estava prestes a entrar em colapso.
O vírus continua circulando no país, como mostram os números. As autoridades registraram três novos focos de infecção em regiões consideradas até então de baixo risco, despertando o medo de um novo pico de contágio.
Salões de beleza, lojas de roupas, floriculturas e livrarias reabrem suas portas, com uma série de precauções para funcionários e clientes. Já restaurantes, bares, teatros e cinemas permanecerão fechados até junho pelo menos.
— Esperava ver muita gente, como antes. Mas as ruas estão vazias. Tenho a impressão de que continuamos em confinamento — afirmou, surpresa, Marie-France Navarro, no moderno bairro de negócios de La Défense, situado ao oeste de Paris.
Na famosa Avenida Champs-Élysées, normalmente cheia de compradores e turistas, reinava uma calma incomum.
— O ambiente é um pouco irreal. Todo mundo de máscara. É muito estranho — comenta Irina, uma jovem de 20 anos que aguarda impaciente, junto com um grupo de pessoas, a reabertura de uma grande rede francesa de cosméticos.
Em uma sapataria em uma rua comercial de Paris, as portas já estavam abertas. Apenas duas vendas foram feitas desde a ordem do desconfinamento.
— Não tem muita gente esta manhã. Apenas alguns curiosos — lamentou o gerente Alexandre.
Retorno nas escolas
Depois de mais de dois meses dando aulas através de uma tela de computador, os professores também retornam às escolas nesta segunda-feira (11) para preparar o retorno das crianças às salas de aula a partir de terça-feira.
"Em torno de 86% das 50,5 mil escolas da França vão abrir para receber mais de 1,5 milhão de crianças", disse o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, ao Journal du Dimanche.
O retorno às aulas será realizado de forma voluntária e seguindo um rigoroso protocolo sanitário. Nele, as crianças deverão manter uma distância de pelo menos um metro o tempo todo, e os professores deverão estar de máscara.
Vários prefeitos ameaçaram não abrir os estabelecimentos em suas cidades, alegando que os riscos à saúde continuam sendo significativos.
Máscaras obrigatórias no metrô
Com a suspensão gradual das restrições, milhares de pessoas voltam ao trabalho nesta segunda-feira, um retorno considerado essencial pelo governo para revitalizar a economia francesa. O país se encontra em sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
— Estou feliz por voltar. Não sabia mais o que fazer em casa — comemorou Bruno Angilletta, dono de uma escola de direção em Paris. — Vamos retomar devagar para termos certeza de que tudo está bem. Comprar desinfetante, máscaras, adotar todas as medidas sanitárias — afirmou.
Os franceses podem sair às ruas livremente, a partir desta segunda, sem ter de justificar. Deslocamentos estão permitidos dentro de uma distância de, no máximo, 100 quilômetros de casa.
Para pegar metrô, ônibus, ou trem, deverão, necessariamente, usar uma máscara. Para isso, o Estado francês disponibilizou 10 milhões de máscaras para as empresas de transporte público, que irão distribuí-las entre os usuários.
Em Paris, quem quiser pegar o transporte público nos horários de pico também deve apresentar um atestado de sua empresa, justificando a necessidade do deslocamento. A medida tem como objetivo evitar multidões.
Para garantir a distância física entre os passageiros, placas e setas foram instaladas no piso das plataformas da estação de metrô. Caso as regras não sejam respeitadas, o serviço poderá ser interrompido, alertam os responsáveis.
Apesar dos temores de uma segunda onda de contágio, algo que os infectologistas consideram "possível", o governo acredita que é fundamental revitalizar a economia para evitar uma cascata de falências de empresas e desemprego em massa.
— Precisamos encontrar um equilíbrio indispensável entre o renascimento econômico e o respeito às precauções — disse o primeiro-ministro Edouard Philippe na semana passada.
Além de deixar mais de 26 mil mortos na França, a covid-19 também teve um impacto devastador na economia francesa, com a redução da atividade em cerca de um terço e quase meio milhão de desempregados no setor privado.