O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta segunda-feira (6) que pode pedir perdão por uma postagem considerada racista pela embaixada da China no Brasil caso o país asiático se comprometa a fornecer respiradores.
Em postagem numa rede social no sábado (4), o ministro usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para fazer chacota da China e associar a pandemia de coronavírus a interesses chineses.
Apesar da postagem, Weintraub negou nesta segunda, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que seja racista. Disse que já esteve no país e que até tem amigos chineses.
— Eu sou brasileiro. Então, vou fazer o seguinte, meu acordo aqui: vou lá, peço desculpa, falo "por favor, me perdoem pela minha imbecilidade", e a única condição que tenho é que, dos 60 mil respiradores que estão disponíveis, eles vendam mil respiradores para o MEC, para salvar a vida dos brasileiros, pelo preço de custo — disse na entrevista ao jornalista José Luiz Datena.
O ministro cita que há necessidade de mil respiradores na rede de hospitais universitários ligada ao Ministério da Educação, que também atende pacientes do Sistema Único de Saúde.
Weintraub apagou a mensagem publicada no Twitter, no sábado, que tinha o seguinte conteúdo:
"Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu o membro do gabinete do presidente Jair Bolsonaro.
A embaixada da China reagiu à manifestação do ministro no início da madrugada desta segunda-feira (6), por meio de uma nota publicada no Twitter, na qual classifica as declarações do ministro de "absurdas e desprezíveis", com "cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil".
"O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude", completou.
Weintraub minimizou a mensagem e disse que a apagou a postagem a pedido de um amigo, e não do presidente Bolsonaro.
– Falar que eu sou racista é uma acusação que, se fosse um brasileiro, ia ter que provar na Justiça.
Na entrevista, o titular da Educação ainda acusou a China de negligenciar informações sobre a doença e de agora querer lucrar "com a tragédia".
— O governo da república chinesa, onde começou o coronavírus, poderia ter alertado o mundo inteiro que ia faltar respirador. Que nós teríamos três meses para fazer respirador. Isso não foi feito — disse.
— Agora que estamos desesperados correndo atrás de respirador, o que é que acontece? Aparecem 60 mil respiradores na China, e eles estão leiloando. Aparece um monte de equipamento, de proteção, de máscara, e eles estão leiloando. Então, assim, teve tempo de eles se prepararem para vender para o mundo, pelo preço mais alto, respirador e máscara.
Esse não é o primeiro ataque de uma pessoa ligada ao presidente Jair Bolsonaro contra a China, país onde foi registrado o começo da pandemia e que, por isso, é acusado de ter gerado a crise mundial da covid-19.
A embaixada já havia feito duras críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente, também em rede social, comparar a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, quando a antiga União Soviética ocultou a dimensão do desastre.
Membros do governo, como o vice-presidente, Hamilton Mourão, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tentaram colocaram panos quentes na crise diplomática. Depois, Bolsonaro telefonou para o dirigente da China, Xi Jinping, para aparar as arestas criadas pelo filho.
Ao comentar a ligação, o presidente disse que ele e o líder chinês reafirmaram "nossos laços de amizade, troca de informações e ações sobre a Covid-19 e ampliação de nossos laços comerciais".
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2018, 26,7% das exportações brasileiras tiveram o país asiático como destino, Pequim lidera o ranking de compradores dos produtos brasileiros, segundo o Ministério da Economia. Entre 2003 e 2019, investiu US$ 79 bilhões no Brasil.