Os jovens democratas dos Estados Unidos (EUA) estão encantados por um senhor de 78 anos, Bernie Sanders. Os americanos mais velhos, contudo, preferem o de 77, Joe Biden. Ao se analisar o sucesso até aqui de cada candidato dentro dos subgrupos dos eleitores nas primárias das eleições dos EUA de 2020, salta aos olhos a diferença na faixa etária dos que apoiam cada um deles.
Sanders ficou sempre acima dos 43% das intenções de votos entre os eleitores de até 29 anos, considerando os 16 Estados com dados das pesquisas da Edison Research, divulgadas pela CNN. Nessa faixa de até 29 anos, Biden não ultrapassou os 30%.
O abismo é ainda maior se considerados os ainda mais jovens — eleitores de até 24 anos. Sanders chega a 68%, em Nevada; o teto de Biden é 31%, na Carolina do Sul. A coisa muda completamente entre os eleitores acima dos 65 anos. Biden atinge 78%, no Alabama. Nesta faixa etária, o teto de Sanders foi 41% — resultado obtido em Vermont.
Essa grande diferença parece ser reflexo das promessas de cada candidato. Sanders defende bandeiras vistas como extremamente progressistas, como um plano de saúde gratuito para todos os americanos, acesso ao ensino superior também de forma gratuita e cancelamento das dívidas vindas de financiamento estudantil de 45 milhões de cidadãos (impacto previsto de US$ 1,6 trilhão, o equivalente a R$ 7 trilhões). São medidas com grande apelo entre os jovens, mas que trazem dúvidas sobre a viabilidade orçamentária.
Por outro lado. Biden se coloca como um candidato mais ponderado, capaz de atrair eleitores que votaram em Donald Trump em 2016 mas que poderiam migrar para os democratas agora. Eles, entretanto, não fariam a mudança em direção a um socialista — como Sanders se autodenomina.
Uma dificuldade para Sanders nessas primárias é que o público jovem, sua base, tende a ter um comparecimento mais baixo. Historicamente, os eleitores mais velhos são quatro vezes mais presentes que os jovens nessa etapa. Ou seja, mesmo que Sanders tenha grandes vantagens percentuais entre os democratas jovens, eles representam baixo número absoluto de votos.
Essa matemática, porém, pode se voltar contra Biden se for ele o oponente de Trump. Nas eleições gerais, o comparecimento dos jovens cresce. Se nas primárias há 4 vezes mais eleitores mais velhos, na disputa final a diferença cai para 1,6 vez, aponta análise de Martin Wattenberg, no Washington Post. A eventual indicação de Biden em 2020 pode rememorar o caminho de Hillary Clinton em 2016. Ela também foi bem nas primárias entre os mais velhos, mas teve pouco apoio entre os jovens.
Na eleição final, a estimativa é que 55% dos jovens tenham votado em Hillary contra Trump, cinco pontos percentuais a menos que em Barack Obama quatro anos antes. Segundo os próprios estrategistas da democrata, a diferença foi crucial para sua derrota.