Após o bombardeio norte-americano que matou, em Bagdá, um dos principais líderes iranianos, há preocupação, no mercado, que a escalada na tensão entre Estados Unidos e Irã suspenda o abastecimento de petróleo, pressionando os preços internacionais.
Segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o Iraque exporta cerca de 3,4 milhões de barris de petróleo bruto por dia. Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), David Zylberstajn aponta como maior risco de disparada um eventual fechamento do Estreito de Ormuz. Trata-se da única ligação entre o Golfo Pérsico e os oceanos, por onde passa todo o tráfego marítimo dos principais países exportadores do óleo.
— Passa por lá cerca de um quinto do óleo negociado no mundo. Caso isso ocorra de fato, afeta mais os países que dependem de petróleo importado, mas não será uma tragédia. O Brasil tem uma situação bem resolvida, embora importe muito óleo diesel. Alguém vai pagar a conta. Mas intervir na Petrobras seria um absurdo, ainda mais agora que se tenta vender refinarias. Tem de blindar a Petrobras dessa tentação maluca e lembrar que a empresa, há cinco anos, quase quebrou — afirmou Zylberstajn.
O ex-coordenador regional da ANP e consultor da ES Petro, Edson Silva, avalia que a alta nos valores será relevante para todos os países, tanto produtores quanto consumidores. Silva concorda que o maios risco é o bloqueio ao Estreito de Ormuz:
— No Brasil, esse impacto será grande porque a política de preços da Petrobras nos últimos dois anos tem sido balizada pelo câmbio no país e pela cotação do petróleo no mercado internacional. Em perspectiva, se o petróleo e o dólar subirem, o combustível subirá no Brasil.
Para o consultor, o controle do repasse pela estatal representará mudança em sua atual política, desestabilizando a perspectiva de investidores. Mas ressalva:
— Não faz sentido para um país autossuficiente na produção de petróleo absorver o impacto de uma crise internacional. Mas segurar o aumento contradiz o que o governo tem sinalizado ao mercado. Aumento terá, mas, como o governo irá se comportar, é algo a ver.
A Petrobras reajustou a gasolina pela última vez no dia 27 de novembro, com alta de 4%. Já o preço do diesel foi elevado em 3% no dia 21 de dezembro (foi o terceiro aumento em pouco mais de um mês). Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura, na semana antes do Natal os preços dos dois produtos estavam mais altos nas refinarias da Petrobras do que no mercado internacional.