Os uruguaios terão de esperar até o final da semana para conhecer o nome do presidente eleito no domingo (24). Com a pequena diferença entre os candidatos, o Tribunal Eleitoral disse que o resultado dependerá dos votos observados, o que será apontado entre quinta (28) e sexta-feira (29). Esses votos referem-se a pessoas que votaram fora de sua seção regular, o que é permitido no país. O número de votos observados é semelhante à diferença entre os concorrentes, apontou o presidente da Corte, José Arocena.
Além disso, houve denúncias de fraude por ambas as chapas, o que obrigará algum tipo de recontagem. A apuração do segundo turno da disputa presidencial foi acompanhada minuto a minuto pelos eleitores. Com 98% das urnas apuradas, às 23h20min, o candidato da oposição Luis Lacalle Pou (Partido Nacional, de centro-direita) tinha 48,74% dos votos. Na sequência, com 47,48%, aparecia Daniel Martínez (Frente Ampla, esquerda), que tentava manter a hegemonia de 15 anos de seu grupo político no poder.
Depois de um dia tranquilo de votação, o tom da disputa foi dado já pelas pesquisas boca de urna. Pelo menos dois institutos de pesquisa apontavam a vitória de Lacalle com diferença de 3% dos votos. Outros dois órgãos indicavam empate em seus levantamentos, sem apontar o nome do vencedor.
Antes de votar, o atual presidente, Tabaré Vázquez, se referiu às atuais crises em vários países da América Latina e disse que o Uruguai seguirá "todos os passos constitucionais e legais" para uma mudança de presidente em 1º de março de 2020.
– O povo uruguaio pode ter a absoluta certeza de que cumpriremos isso – declarou.
Propostas
Após o primeiro turno, em 27 de outubro, Lacalle Pou conseguiu reunir todo o arco da oposição em uma aliança eleitoral, incluindo o liberal Partido Colorado, o de direita Cabildo Aberto, liderado pelo ex-comandante do Exército Guido Manini Ríos, e o Partido Independente. Após três mandatos consecutivos durante os quais governou com maioria absoluta no parlamento, a Frente Ampla enfrentava o maior desafio de sua história: permanecer no governo onde chegou em 2005.
Porém, com alta taxa de desemprego de 9,5%, economia estagnada, déficit fiscal persistente de 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) e o aumento de 45% no número de homicídios entre 2017 e 2018, o Uruguai pode mudar o rumo político. Lacalle Pou fez sua segunda tentativa de chegar à presidência, depois de perder em 2014 para Vázquez. O candidato da oposição anunciou que, em caso de vitória, após assumir, enviará ao parlamento uma "lei urgente de consideração", com a qual pretende agir rapidamente, dentro de um período de 90 dias.
O projeto tem o objetivo de declarar emergência na segurança e liberar a importação de combustível. No país, uma empresa estatal tem o monopólio, e os preços da gasolina e do diesel estão entre os mais alto do mundo.
Lacalle Pou também propôs revisão das contas públicas para controlar o déficit fiscal e preservar o grau de investimento do Uruguai, que espera alcançar com cortes de até US$ 900 milhões no Estado.
O Uruguai fez parte de um grupo de países que teve governos de esquerda na última década, quando Néstor e Cristina Kirchner governaram na Argentina, Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, e Rafael Correa, no Equador. A Frente Ampla chegou ao poder com Vázquez em 2005, continuou com José Mujica em 2010 e retornou a Vázquez em 2015. Embora tenha obtido quase 40% dos votos no primeiro turno, essa coalizão não conseguiu manter o apoio entre seus partidários para a votação de ontem.