Em meio à crise instalada na Bolívia após a renúncia do agora ex-presidente Evo Morales, o comandante geral da polícia, Yuri Calderón, demitiu-se do cargo nesta segunda-feira (11). Conforme fontes policiais, consultadas pela agência EFE, o órgão de segurança retomará o trabalho de segurança nas ruas, afetadas por tumultos e saques.
— Na manhã anterior ao Estado-Maior (reunião dos comandantes da polícia boliviana), o comandante renunciou e se afastou — disse o diretor de comunicação da polícia Rudy Uría em uma entrevista coletiva às portas do comando geral da polícia de La Paz.
Ainda de acordo com Uría, Calderón demitiu-se alegando questões pessoais. Conforme o diretor de comunicação, outra pessoa será designada para ocupar o cargo temporariamente.
Na manhã desta segunda, membros da unidade táctica de operações policiais exigiram a renúncia de Calderón, em um pronunciamento no qual alguns se apresentaram com rostos cobertos.
— Necessitamos de outro chefe policial, que respeite as nossas revindicações e todo o comando da polícia boliviana, porque o povo precisa deles — disse um dos policiais, sem identificação.
Os policiais mascarados detiveram, no domingo, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, María Choque Quispe, e outros partidários de Evo Morales, sem nenhuma acusação evidente. O partido de Evo Morales acusa esses policiais de serem milicianos, incitados pelo líder oposicionista Luís Camacho, agindo à margem da lei. No final da noite de domingo, Camacho anunciou que uma ordem de prisão contra Evo Morales foi emitida, mas ela não se concretizou.
Os resultados de uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgada no domingo apontaram "graves irregularidades" nas eleições, desencadeando os eventos que levaram à renúncia de Morales. No domingo, depois da divulgação do relatório, o ex-presidente anunciou a realização de novas eleições, mas não conseguiu aplacar a ira da oposição. Durante o dia, ele enfrentou uma avalanche de renúncias de altos integrantes do governo, e acabou renunciando após a pressão decisiva dos militares e da polícia.
O ex-presidente, politicamente forjado como sindicalista do setor cocaleiro, defendeu seu legado que, segundo ele, trouxe progresso econômico e social a uma das nações mais pobres da América Latina."Estamos deixando a Bolívia com muitas conquistas sociais", disse ele em sua mensagem de renúncia.