BUENOS AIRES (FOLHAPRESS)
Eleito neste domingo (27) o próximo presidente da Argentina, Alberto Fernández, 60, é veterano na política, com passagens por diferentes matizes ideológicos.
Entrou nessa vida quando ainda era estudante de direito, por meio de uma pequena agrupação nacionalista de direita, na qual se destacou como bom orador.
Nos anos 1980, com a redemocratização do país após o regime militar (1976-1983), Fernández integrou o governo de Raúl Alfonsín (1983-1989), do partido que na época era o principal rival do peronismo, a União Cívica Radical. Lá, ocupou o cargo de subdiretor geral de assuntos jurídicos do ministério da economia.
Com o fim desastroso da gestão Alfonsín, que teve de deixar o cargo antes da data prevista devido a um processo hiperinflacionário, Fernández abandonou a sigla e se aproximou do peronismo, que voltava ao poder com a eleição de Carlos Menem (1989-1999).
Durante o menemismo, Fernández foi superintendente de seguros da nação argentina. Nesta época, começou a se relacionar com muita habilidade com os grandes meios de comunicação do país, como o Clarín e o La Nación.
Do menemismo --que foi um peronismo identificado com o neoliberalismo--, Fernández saltou para o kirchnerismo --um peronismo que se considera de esquerda. Primeiro, foi chefe da campanha de Néstor Kirchner.
Depois, passou a comandar seu gabinete de ministros. Permaneceu no posto durante toda a gestão. Sempre que pode, o novo mandatário reforça o vínculo que teve com Néstor, pois fez parte fez da equipe que assumiu a Presidência após a hecatombe política e econômica de 2001 e ajudou a reconstruir o país a partir das cinzas.
No primeiro ano do governo Cristina, foi se afastando do kirchnerismo e passou a criticar com intensidade a presidente --na campanha deste ano, vídeos com seus ataques à viúva de Néstor e memes com suas frases anti-Cristina explodiram nas redes.
Fernández posiciona-se contra algumas bandeiras clássicas do kirchnerismo. Ele se opõe a uma reforma do Judiciário, que o vincule mais ao Executivo. Também é contra o aumento da tributação dos grandes empresários rurais, que causou grande cisão durante a gestão Cristina.
O novo presidente também seria mais amigo do livre mercado. No entanto, não pode ser caracterizado como de centro. Economicamente, defende uma abertura, mas mantendo certas travas protecionistas e uma abordagem de ação do Estado na economia.
Já afirmou, por exemplo, que a Argentina não dará calote no FMI (Fundo Monetário Internacional), com quem Macri assumiu dívida de US$ 57 bilhões. Porém, quer renegociar o empréstimo, e pagar a conta não seria uma prioridade. Fernández também é a favor da volta do controle cambial.
Na política externa, embora de perfil nacionalista-protecionista, Fernández não tem as características de um líder carismático populista nem guarda semelhanças com os governantes ditos bolivarianos com os quais Cristina tanto se identificava.
Neste sentido, pode também ser um fator de conciliação na região, sem assustar investidores internacionais.