Pedágios astronômicos, praias com acesso restrito, escândalos de sonegação fiscal e uma elite que se considera acima da lei foram algumas das fagulhas cotidianas que alimentaram a atual crise social no Chile.
Chega de pedágio
Estradas modernas que ligam Santiago ao resto do país provocam inveja em muitos visitantes latino-americanos, mas para os chilenos utilizar estas vias tem um alto preço, pago em pedágios eletrônicos ou manuais.
São inúmeros os caminhoneiros irritados com as concessionárias que administram as estradas e os usuários fartos de pagar a tarifa a cada poucos quilômetros.
– Pedimos que cobrem o que é justo. Tenho renegociado com as principais estradas e ainda estou devendo – alega Marcelo Aguirre, um dos caminhoneiros que nesta sexta-feira (25) aderiu aos protestos sob o #NoMasTag (NãoMaisPedágio).
Praias dos ricos
O mar e os lagos são de todos, mas não as praias. Assim entendem milhares de chilenos, que a cada verão enfrentam cercas e obstáculos impostos por donos de luxuosas residências.
Em pleno verão de 2019, um vídeo com o presidente da empresa chilena de gás Gasco, Matías Pérez Cruz, se transformou em um símbolo destas denúncias. Às margens de um lago no sul do país, o empresário expulsou veranistas que descansavam em um local afirmando que se tratava de sua propriedade.
As praias e terrenos que cercam os cursos d'água são públicos, mas denúncias de casos similares ao do empresário se multiplicam nas redes sociais e nos tribunais do país, dando a impressão de que o dinheiro compra tudo.
"Corrupção"
Em 2015, durante o segundo governo da socialista Michelle Bachelet (2014-2018), explodiu o primeiro grande caso de corrupção em décadas no Chile, envolvendo financiamento ilegal de campanha e crimes tributários, o que levou à condenação de dois controladores de um dos mais poderosos grupos econômicos do Chile, mas apenas à liberdade vigiada e a aulas de ética.
O escândalo foi seguido por uma série de casos de corrupção empresarial, conluio e delitos políticos, mas que só provocaram penas alternativas, e ninguém foi preso.
"Aulas de ética para os ricos e prisão para os pobres", foi assim que os chilenos entenderam a resposta da Justiça, o que alimentou ainda mais o rancor popular.
A saúde de mulheres e crianças custa mais
Mulheres com idade reprodutiva e crianças pagam mais, pelo menos nos planos de saúde privados chilenos. A isso se soma a dificuldade dos chilenos em comprar medicamentos, talvez os mais caros da América Latina.
No sistema de saúde público, a regra são longas filas e muito tempo de espera por um especialista ou uma cirurgia.