Hunter Biden, filho do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden, está no centro de uma polêmica, após uma conversa entre o presidente americano, Donald Trump, e seu colega ucraniano, Volodymyr Zelenski.
No telefonema, que levou os democratas a iniciarem um processo de impeachment do presidente, Trump pediu a Zelenski que investigasse Joe Biden, seu potencial rival nas eleições de 2020.
O republicano acusa o adversário democrata de ter pedido o afastamento de um procurador ucraniano para proteger seu filho.
Confira abaixo o que se sabe, até o momento, sobre as atividades de Hunter Biden na Ucrânia:
- Universidades de prestígio e cocaína -
O advogado Hunter Biden, de 49 anos, estudou nas prestigiosas universidades de Georgetown e Yale. Primeiro, trabalhou em um escritório de advocacia em Nova York e foi um dos fundadores da consultoria de investimentos Rosemont Seneca Partners.
Em 2012, tornou-se reservista da Marinha americana, mas foi expulso por dar positivo para cocaína em um controle de rotina. Com frequência, os tabloides americanos falam de seus problemas com as drogas e de sua vida pessoal agitada.
- Gás ucraniano -
A partir de abril de 2014, quando seu pai era vice-presidente de Barack Obama, Hunter Biden entrou no conselho de administração da empresa ucraniana Burisma, grande produtora de gás.
A companhia está registrada no Chipre, um paraíso fiscal, algo comum em muitos países da extinta União Soviética.
Nesta época, a Burisma anunciou que Hunter ficaria encarregado de representar a empresa nas organizações internacionais, sem divulgar mais detalhes. Ele mesmo explicou que iria assessorar o grupo sobre "transparência", no momento em que seu pai era responsável pelas relações com a Ucrânia.
Fundada em 2002, a Burisma é uma companhia polêmica, propriedade do empresário Mykola Zlochevski. Mais tarde, este último se tornou um deputado do pró-russo Partido das Regiões. Entre 2010 e 2012, Zlotchevski foi ministro do Meio Ambiente do presidente pró-russo Viktor Yanukovytch.
- Negócios -
Uma fonte ocidental ouvida pela AFP em Kiev explicou como muitos no mundo dos negócios se surpreenderam com a chegada de Biden à Burisma, levando-se em conta a "má reputação" do grupo. As atividades da empresa dispararam quando Zlotchevski entrou na política.
"Acredito que a principal razão de trazer Hunter Biden para o conselho de administração era reforçar a reputação da Burisma", disse esta fonte, que não considera, porém, suspeitas suas atividades dentro da empresa.
"50.000 dólares [de salário] mensais é o preço que se tem que pagar para ter uma boa reputação", completou esta fonte.
Em fevereiro de 2014, o presidente Yanukovytch foi derrubado, em consequência da agitação do movimento pró-europeu do "Maidan", e as coisas mudaram na Ucrânia.
Por isso, a Burisma quis melhorar sua imagem, contratando figuras internacionais, como Hunter Biden, ou o ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski.
Dois especialistas ucranianos em energia consultados pela AFP disseram não ter conhecimento de registros de qualquer atividade - suspeita, ou não - de Hunter Biden na Ucrânia.
Alguns jornais afirmam que sua presença na Burisma, onde esteve até 2019, teria servido à companhia para evitar processos judiciais.
- Corrupção e lavagem de dinheiro -
A chegada ao poder na Ucrânia de dirigentes pró-europeus após a fuga de Yanukovytch marcou o início de várias investigações por corrupção contra os ex-líderes.
Em abril de 2014, quando Biden entrou na Burisma, Londres bloqueou 23 milhões de euros das contas de Zlotchevski no país. Várias investigações por corrupção e lavagem de dinheiro tiveram início na Ucrânia e na Grã-Bretanha.
Na Ucrânia, as investigações foram lideradas pelo procurador geral Viktor Shokin. Joe Biden pediu que fosse destituído por seus maus resultados na luta contra a corrupção.
Segundo Donald Trump e seu advogado Rudy Giulani, o real motivo de Biden era outro, porém: proteger o filho. Uma hipótese que muitos na Ucrânia consideram improvável.
Na mesma época, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) também pediram a demissão do procurador-geral, acusado de acobertar a corrupção no país e de sabotar as reformas anticorrupção.
* AFP