Apesar do anúncio da prefeitura de Paris de que será lançada uma operação de descontaminação mais intensa, a preocupação de associações e sindicatos com a toxicidade do chumbo liberado no incêndio da Catedral de Notre-Dame permanece. Por conta das chamas de 15 de abril, centenas de toneladas do elemento presentes na estrutura do monumento se fundiram e dispersaram em forma de partículas.
Na segunda-feira (29), um dia antes da publicação de um mapa atualizado com os níveis de contaminação, representantes sindicais da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e membros associados expressaram sua inquietação com o estado de saúde de quem esteve na região da Catedral durante e após o incêndio. A associação Robin Des Bois (Robin Hood) anunciou ter apresentado uma denúncia judicial pela contaminação provocada pelas chamas, acusando autoridades francesas de terem demorado a reagir e de falta de transparência.
As obras de restauração da Catedral foram interrompidas em 25 de julho para revisar as regras de prevenção para os trabalhadores expostos a resíduos de chumbo. Estas não serão retomadas até a semana de 12 de agosto.
Um recomeço das obras que "não nos agrada", criticou Benoît Martin, da União Departamental da CGT. Ele assegurou haver temores pela saúde dos bombeiros, operários de limpeza, policiais, mas também pelos emblemáticos vendedores de livros parisienses e os funcionários em bares e restaurantes próximos a Notre-Dame, na Île de la Cité, no coração de Paris.
Por outro lado, duas escolas situadas no mesmo bairro da Catedral foram fechadas no fim de julho como medida de precaução, devido à alta concentração de chumbo. Estes estabelecimentos acolhiam 180 crianças para cursos de verão.
Anne Souyris, secretária de Saúde adjunta da prefeitura de Paris, admitiu nesta segunda-feira (5) em entrevista ao Le Parisien que "apesar dos trabalhos de limpeza, a contaminação continua muito significativa" na área de Notre-Dame e arredores.
Segundo Souyris, uma nova operação de descontaminação "com meios muito menos clássicos" começará esta semana e terminará antes do início do ano letivo, no começo de setembro.
"Não se contempla" confinar a Catedral
O confinamento da Notre-Dame, exigido por associações e sindicatos, "não se contempla de nenhuma forma", afirmou nesta segunda o arcebispo Monsenhor Chauvet durante entrevista à emissora de rádio Europe 1. O reitor da Catedral disse que os operários participam da reconstrução "não se encontram em risco" e explicou que "todo o mundo fez exames de sangue para conhecer os níveis de chumbo e posso dizer que não estamos contaminados".
— Atualmente, o pessoal (15 funcionários do hospital Hôtel-Dieu) que fez um exame de chumbo não recebeu os resultados — assegurou Graziella Raso, sindicalista da CGT neste centro próximo da Catedral.
Souleymane Soumaro, sindicalista da CGT que representa os trabalhadores parisienses de limpeza, acrescentou que os 500 funcionários de seu coletivo "não foram informados do risco" de exposição ao chumbo.
— Continuam utilizando suas vassouras e lavam seus uniformes em casa, o que eleva o risco de contaminar suas famílias — explicou.
Os resultados dos novos exames de concentração de chumbo, cuja publicação está prevista para esta terça-feira (6), "serão divulgados de forma imediata", assegurou Emmannuel Grégoire, vice-prefeito de Paris, em entrevista à emissora de rádio e televisão France Info.
— (Se as amostras) revelarem que outras ruas adjacentes estão contaminadas, então pediremos que sejam fechadas — indicou Souyris.