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Governo alemão pede para que judeus não usem quipá em público

Felix Klein, comissário da Alemanha contra o antissemitismo, afirmou que sua opinião sobre o assunto mudou devido a "uma crescente desinibição social e brutalização" na sociedade

Agência Brasil

FRANK RUMPENHORST / DPA/AFP
Crimes antissemitas aumentaram quase 20% na Alemanha em 2018 em relação ao ano interior, com 1.799 ocorrências

O comissário do governo alemão para o combate ao antissemitismo aconselhou judeus a não usar o quipá (peça do vestuário judeu) em público, devido a um recente aumento de ataques antissemitas no país.

— Não posso recomendar aos judeus que usem o quipá todo o tempo e em qualquer lugar na Alemanha. Infelizmente preciso dizer isso — afirmou o comissário, Felix Klein, durante entrevista.

Klein afirmou que sua opinião sobre o assunto mudou devido a "uma crescente desinibição social e brutalização" na sociedade, que fizeram com que o antissemitismo aumentasse.

— A internet e as redes sociais contribuíram fortemente para isso, mas também os constantes ataques contra a nossa cultura da memória — afirmou.

O comissário sugeriu que policiais e funcionários públicos sejam treinados para lidar com o problema. Klein afirmou que há uma definição clara do que é antissemitismo e que esta deve ser ensinada em academias policiais, assim como a professores e juristas.

De acordo com dados do Ministério do Interior, crimes antissemitas aumentaram quase 20% na Alemanha em 2018 em relação ao ano interior, com 1.799 ocorrências. Klein destacou que 90% dos casos foram praticados por indivíduos que apoiam grupos de extrema direita.

Após as declarações de Klein, representantes da comunidade judaica na Alemanha exigiram que o Estado garanta aos judeus uma vida sem medo. O presidente de Israel, Reuven Rivlin, se disse "profundamente chocado" com a recomendação do comissário alemão.

— A responsabilidade pelo bem-estar, a liberdade e o direito ao exercício da religião por qualquer membro da comunidade judaica está nas mãos do governo alemão e de seus órgãos para aplicação da lei — afirmou.

— Temores quando à segurança de judeus alemães são uma capitulação perante o antissemitismo e um reconhecimento de que os judeus novamente não estão seguros em solo alemão — acrescentou.

Neste domingo (26), o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Josef Schuster, denunciou um aumento das ameaças antissemitas no país, reforçando o alerta de Klein.

— Há muito tempo é fato que, em grandes cidades, judeus estão potencialmente expostos a riscos, se forem identificados como judeus — afirmou. — Eu não tendo a dramatizar, mas, no geral, a situação realmente piorou. — completou.

Segundo Schuster, o debate desencadeado por Klein é bem-vindo, pois "está na hora" de toda a sociedade alemã combater o antissemitismo.

A ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, manifestou preocupação com a situação:

— Os atos violentos cada vez mais frequentes contra judias e judeus são vergonhosos para o nosso país — disse ao jornal Handelsblatt. A ministra afirmou que movimentos de direita atacam a democracia na Alemanha e têm como alvo a convivência pacífica no país.

Klein, cujo posto de comissário para o antissemitismo foi criado no ano passado, ressaltou que políticos e a sociedade precisam reconhecer os problemas que ele apontou e que o combate ao antissemitismo deve ser tarefa de todos.

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