
Os escândalos de pedofilia do clero são resultado da revolução sexual dos anos 1960 e do colapso da fé no Ocidente, afirma o papa emérito Bento XVI em uma análise publicada nesta quinta-feira (11).
Em um longo texto publicado no "Klerusblatt", publicação mensal alemã destinada ao clero, o papa saiu de seu silêncio. Ele vive recluso em um pequeno monastério da Cidade do Vaticano desde que renunciou ao cargo, há seis anos.
A Igreja se encontra na berlinda pela revelação de escândalos de crimes sexuais nos Estados Unidos, no Chile, na Austrália e na Europa. Bento XVI afirma que a Revolução de 1968 defendeu uma "liberdade sexual" sem "normas", que fazia da pedofilia algo "permitido e apropriado". Suas reflexões se inscrevem no âmbito dos efeitos da cúpula eclesiástica organizada em fevereiro pelo papa Francisco sobre os abusos sexuais de menores por parte do clero.
"Sempre me perguntei como os jovens podiam, nesta situação, ir para o sacerdócio", declarou, ao se referir ao "amplo colapso" da vocação sacerdotal ocorrida nos anos seguintes. Baseando-se em exemplos de sua Alemanha natal, ele conta a maneira como "o radicalismo sem precedentes dos anos 1960" afetou a formação dos futuros padres nos seminários.
O papa emérito constata com amargura uma "sociedade ocidental onde Deus desapareceu do espaço público" e onde a Igreja é percebida como "uma espécie de aparelho político".
"Por que a pedofilia tomou essas proporções? No fim, isso se explica pela ausência de Deus", convertido em uma "preocupação de ordem privada de uma minoria" de fiéis, continuou.
Na segunda metade dos anos 1980, o assunto da pedofilia voltou à tona para a Igreja, especialmente nos Estados Unidos, e levou progressivamente ao reexame da lei penal do direito canônico e à aplicação de condenações ao clero após processos.
A Igreja se deu conta de que os crimes de seus membros "prejudicavam a fé" que se deve proteger, após ter garantido de maneira excessiva a única proteção dos acusados. Assim, a condenação pelos crimes tornou-se mais difícil, ressalta o papa emérito.