Durante o segundo dia da reunião "A proteção de menores na Igreja", nesta sexta-feira (22), o papa Francisco ouviu o discurso da professora de Direito Canônico, Linda Ghisoni, para em seguida falar sobre a presença dela. Considerado um marco na história da Igreja, o encontro reúne 190 membros do alto clero no Vaticano .
— Convidar uma mulher a falar não é entrar no modo de um feminismo eclesiástico. Porque, no final, todo feminismo acaba sendo um machismo de saia — disse, acrescentando na sequência: — Não. Convidar uma mulher para falar sobre as feridas da Igreja é convidar a Igreja a falar sobre si mesma, sobre as feridas que tem. E isso eu acho que é o passo que devemos fazer com muita força: a mulher é a imagem da Igreja, uma esposa, uma mãe. Um estilo. Sem esse estilo, falaríamos do povo de Deus, mas como uma organização, talvez um sindicato, mas não como uma família parida pela mãe Igreja.
Na palesta, Linda Ghisoni abordou o tema "agir em conjunto", que tratou da importância da escuta das vítimas e de se romper o silêncio em torno do assunto.
— Como podemos falar de proteção de menores na Igreja, sem considerar as vítimas e suas famílias, sem falar dos abusadores, dos cúmplices, dos negacionistas, dos acusados injustamente, dos negligentes, dos que desviaram os casos, dos que tentaram falar e agir mas foram calados? — questionou ela para responder em seguida: — Ajoelhados: essa seria a postura adequada para tratar os assuntos destes dias.
O Papa disse que o discurso da professora era próprio de "uma mãe", completou ressaltando que a Igreja "é uma mãe". Em seguida, discutiu o tema da presença de mulheres instituição:
— Não se trata de dar mais funções à mulher na Igreja. Sim, isso é bom, mas isso não resolve o problema. Trata-se de integrar a mulher como uma figura da Igreja em nosso pensamento. E pensar assim também na Igreja com as perspectivas de uma mulher — conclui o Papa.
O encontro reúne clérigos de todo o mundo no Vaticano para debater o tema do abuso de menores na Igreja, em meio à escalada de denúncias de casos em diversos países. A reunião, convocada de forma extraordinária pelo Papa Francisco, segue até domingo (24), entre palestras, falas do Papa e de sacerdotes, orações e grupos de trabalho — que incluem sobreviventes de abusos cometidos por padres.