Estudantes brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa se revoltaram ao encontrar no hall da instituição, nesta segunda-feira (29), uma caixa com pedras com uma placa: "grátis para atirar em um zuca (termo pejorativo para designar brasileiro)".
Uma associação de estudantes da própria universidade, a Tertulia Libertas, assumiu a autoria da caixa polêmica. Segundo o grupo, não se trata de xenofobia, mas sim de uma mensagem satírica da grande quantidade de brasileiros na faculdade de direito. Dezenas de alunos do Brasil presentes na universidade nesta tarde, no entanto, se revoltaram contra a placa, que acabou sendo retirada pelos autores. Os brasileiros organizaram um protesto com bandeiras e cartazes na porta da faculdade.
A juíza brasileira Daniela Hampe, que faz mestrado na instituição, diz ter interrompido o dia de estudos para se juntar aos colegas na manifestação.
—Não é uma brincadeira. Foi incitação à violência, estava lá para todo mundo ver — conta.
Também aluno do mestrado, o brasileiro Moisés Souza diz que esta não é a primeira manifestação explícita de preconceito e xenofobia na faculdade, inclusive por parte de professores.
—Só é piada, só é engraçado quando todos riem. Foi extremamente ofensivo — afirma.
Uma das idealizadoras da instalação polêmica afirmou que há uma insatisfação crescente com a presença dos brasileiros nos cursos de mestrado, uma vez que eles estariam tirando vagas dos portugueses. Segundo ela, as universidades brasileiras não têm critérios tão duros para atribuição de notas quanto as instituições portuguesas. Por isso, os estudantes internacionais levariam a melhor sobre os lusitanos devido ao currículo acadêmico supostamente turbinado.
Por meio de sua assessoria, o reitor da Universidade de Lisboa afirmou estar indignado com a caixa de pedras e a mensagem antibrasileiros. Segundo a reitoria, se estuda agora criar uma comissão para investigar a ação. A faculdade de direito, por outro lado, não condenou explicitamente a instalação.
"A nossa faculdade se orgulha de ser um espaço de liberdade de opinião e de incentivo à participação cívica responsável, convivendo com a autocrítica, o humor e a sátira", diz o texto, assinado por Paula Vaz Freire, subdiretora. Sem citar a polêmica, a nota encerra afirmando que "não serem toleradas quaisquer ações ofensivas relativamente a alunos da faculdade".
Os brasileiros lideram com folga a lista de nacionalidades mais presentes no ensino superior português. São mais de 12,2 mil alunos: quase a mesma quantidade que têm, somados, os outros quatro países do top 5 - Angola, Espanha, Cabo Verde e Itália.