NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) - A demissão de James Comey como diretor do FBI, a renúncia de Michael Flynn como conselheiro de segurança nacional e outras supostas tentativas de obstrução de Justiça por parte do presidente Donald Trump serão apuradas em uma investigação da comissão judiciária da Câmara dos Deputados americana, aberta formalmente nesta segunda-feira (4).
O presidente e sua administração serão investigados por obstrução da justiça, corrupção e abuso de poder, em um processo que pode formar a base para um eventual pedido de impeachment do republicano.
O órgão enviou requisições de documentos para 81 agências, pessoas e organizações ligadas ao presidente e seus aliados, incluindo a Organização Trump, a Fundação Trump, a campanha eleitoral do presidente, o comitê de posse e a Casa Branca. As cartas com o pedido também foram encaminhadas ao FBI (polícia federal americana), ao Departamento de Justiça e a aliados do presidente.
A comissão vai investigar ainda acusações de corrupção, incluindo possíveis violações de leis de financiamento de campanha, a proibição constitucional de receber remuneração estrangeira e o uso do cargo para ganhos pessoais.
Em comunicado divulgado nesta segunda, o presidente da comissão, Jerrold Nadler, democrata de Nova York, afirmou ser imperativo começar a compilar o registro público do que ele chamou de abusos de Trump.
Segundo ele, o trabalho do órgão deve replicar o do procurador especial, Robert Mueller, que apura potencial obstrução da justiça do presidente, e também o de procuradores federais em Nova York.
"Nós vamos agir rapidamente para reunir essa informação, analisar a evidência, e seguir os fatos aonde eles levem com total transparência com a população americana", afirmou Nadler em comunicado. "Esse é um tempo crítico à nossa nação, e nós temos a responsabilidade de investigar esses assuntos e realizar audiências para o público ter todos os fatos. É exatamente o que nós pretendemos fazer."
Um dos pedidos foi feito a Donald McGahn III, ex-conselheiro da Casa Branca. Nadler solicitou documentos relacionados à renúncia de Michael Flynn como conselheiro de segurança nacional, à demissão de James Comey como diretor do FBI, às tentativas de demitir Mueller, entre outros.
Também pediu informações a Annie Donaldson, que trabalhou com McGahn e anotou com detalhes o comportamento de Trump na Casa Branca.
Outros alvos das solicitações são David Pecker, presidente da American Media Inc., dona do tabloide National Enquirer; Allen Weisselberg, diretor financeiro da Organização Trump; Jared Kushner, genro do presidente; Jess Sessions, ex-secretário de Justiça; e Thomas Barrack Jr., amigo de Trump que comandou o comitê de posse.
A depender das respostas recebidas, a comissão pode convocar algumas dessas pessoas a depor. Os que não forem voluntariamente podem ser intimados, embora o recurso ainda possa ser questionado na justiça. A Casa Branca poderia também alegar privilégio executivo para proteger alguns dos documentos pedidos pela comissão, como as mensagens trocadas por Trump, McGahn e outros conselheiros.
Nesta segunda, a Casa Branca confirmou ter recebido os pedidos de documentos relacionados à administração Trump, à família do presidente e a negócios. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, afirmou que o pedido será analisado e respondido no tempo apropriado.
A notícia sobre a investigação já havia sido antecipada por Nadler em uma entrevista à ABC News. Segundo ele, está claro que o presidente obstruiu a justiça.
O anúncio foi feito dias após Michael Cohen, ex-advogado do presidente, depor perante a comissão de supervisão e reforma da Câmara e a acusar o republicano de fazer pagamentos a mulheres para silenciá-las sobre um suposto caso em 2006, o que poderia violar regras de financiamento de campanha.
Ele disse ainda que Trump mentiu sobre outros assuntos, como o envolvimento de um ex-conselheiro no vazamento de emails democratas na campanha eleitoral. Durante o depoimento, Cohen sugeriu que as informações sobre os supostos crimes do presidente poderiam ser obtidas com algumas das pessoas que a comissão da Câmara quer que entreguem documentos.
No domingo, em uma rede social, o presidente americano reagiu e criticou o que chamou de "mais de dois anos de assédio presidencial."
"Eu sou um homem inocente sendo perseguido por pessoas muito ruins, perturbadas e corruptas em uma caça às bruxas que é ilegal e que nunca deveriam ter permitido que começasse", escreveu. "E só porque eu venci a eleição! E apesar disso, grande sucesso!"
Os republicanos acusam os democratas de tentar provocar o impeachment de Trump. Mesmo que a Câmara decida pela remoção do presidente, o Senado, controlado pelos republicanos, dificilmente concordaria com a medida, a menos que haja um caso sólido de irregularidades.