Dois meses e 18 dias depois de assumir o governo brasileiro, Jair Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se reúnem, nesta terça-feira (19), em Washington para alinhar medidas e parcerias entre os dois países. Depois de trocar afagos com o chefe de Estado norte-americano nas redes sociais, Bolsonaro tenta usar a agenda para estreitar os laços com a Casa Branca.
Nesta segunda-feira (18), ao discursar em Washington, Bolsonaro defendeu parcerias entre o Brasil e os Estados Unidos, afirmando que quer um Brasil grande, em uma breve referência ao bordão de campanha de Donald Trump.
— Queremos um Brasil Grande, assim como Trump e vocês, querem uma América grande — disse.
Crise na Venezuela
Os dois governos têm posicionamento alinhado em relação ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Trump e Bolsonaro não reconhecem o novo mandato de Maduro e consideram que existe uma "ditadura" no país caribenho.
Os EUA estão à frente dos mais de 50 países — entre eles o Brasil — que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino. Sanções econômicas e um embargo do petróleo da Venezuela foram aplicados. Esse deve ser um dos principais temas tratados no encontro desta terça-feira. Em 8 de março, a Casa Branca divulgou comunicado, informando que os dois discutirão "o papel principal que os Estados Unidos e o Brasil estão desempenhando no esforço de fornecer assistência humanitária à Venezuela".
Em discurso na Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Bolsonaro deixou claro que a questão do país caribenho está no topo da agenda.
— Temos que resolver a questão da nossa Venezuela. Aquele povo tem que ser libertado e acreditamos e contamos, obviamente, com o apoio norte-americano para que esse objetivo seja alcançado — afirmou.
China
Os Estados Unidos travam guerra comercial com a China. No entanto, o país oriental é o principal parceiro comercial do Brasil. O tema espinhoso deve entrar na pauta do encontro.
Nesta segunda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que as conversas comerciais ocorrem com todos os países, pois "a essência é o ganha-ganha." Paulo Guedes destacou que "não haverá redução comercial com a China", que é o principal parceiro global do Brasil.
A posição foi endossada pelo porta-voz da presidência. Quando perguntado sobre uma eventual "rivalidade" do Brasil com a China na disputa de parcerias com os EUA, Otávio Rêgo Barros foi lacônico.
— Da nossa parte, não — afirmou.
Parcerias comerciais
No informativo do governo dos EUA, consta que os presidentes também "discutirão oportunidades de cooperação em defesa, políticas comerciais pró-crescimento".
O empresariado brasileiro também acompanha com expectativa o movimento de aproximação de ideologias políticas entre as duas nações. Segundo principal destino das exportações do Brasil, atrás apenas da China, os Estados Unidos ocupam a primeira posição no quesito de compras de produtos industrializados.
O governo brasileiro também pleiteia um acordo para evitar a dupla tributação (ADT) de produtos e serviços comercializados entre os dois países, bem como remessa de lucros e dividendos, além de um acordo de cooperação para facilitação de investimentos (ACFI), que prevê medidas para aumentar a segurança jurídica dos negócios bilaterais.
Cooperação militar
Brasil e Estados Unidos assinaram, nesta segunda, acordo que permitirá o uso da base de Alcântara, no Maranhão, para lançamento de satélites e mísseis norte-americanos. Na semana passada, o presidente brasileiro disse que a parceria será "muito importante, (pois) estamos perdendo muito dinheiro nessa região. Poderíamos estar lançando satélites de todo mundo".
O texto precisa passar pelo crivo do Congresso. Trump e Bolsonaro podem aprofundar o debate sobre a cooperação. Na última vez em que o acordo passou pelo Legislativo, em 2001, foi barrado ao tramitar nas comissões. Um dos votos contrários foi do próprio Jair Bolsonaro, então deputado federal pelo PP.
Vistos
Nesta segunda-feira (18), Bolsonaro extinguiu a necessidade de turistas dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália apresentarem visto para entrar no Brasil. A medida começa a valer a partir do dia 17 de junho.
A medida é unilateral. Brasileiros que viajarem para os quatro países continuam obrigados a apresentar o visto. Esse tema pode ser discutido entre Trump e Bolsonaro.
Até o momento, os Estados Unidos não manifestaram a intenção de dispensar a necessidade de visto para os brasileiros. Em Washington, um dos filhos de Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, diz que os brasileiros que são imigrantes ilegais nos EUA são uma "vergonha".
Entrada na OCDE
Espera-se também que os presidentes discutam medidas para aumentar o comércio bilateral e a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Até o momento não foi debatido nenhum acordo de livre comércio entre os dois países, como aconteceu em outros momentos. Atualmente, os Estados Unidos têm acordos desse tipo com 20 países, entre eles, dois sul-americanos: o Chile (acordo celebrado em 2004) e a Colômbia (acordo de 2012).