Nesta quarta-feira (26), o Japão anunciou que vai se retirar da Comissão Baleeira Internacional (CBI) para permitir a caça comercial de baleias em julho. A atividade está proibida nos países que compõem a comissão — incluindo o Brasil, onde aconteceu a última reunião da comissão, em setembro deste ano — desde 1986.
No Brasil, o Japão votou contra a manutenção da proibição à caça de baleias, mas foi derrotado por 41 votos a 27. A reunião aconteceu em Florianópolis. O Japão, entretanto, nunca interrompeu completamente a caça às baleias — impõe uma cláusula da moratória de 1986 afirmando que autoriza a captura dos animais para pesquisa. A caça com fins comerciais é autorizada em países como a Islândia e a Noruega.
— A caça estará limitada às águas territoriais e à zona econômica exclusiva do Japão, de acordo com as cotas de capturas calculadas. segundo o método da CBI, para não esgotar os recursos — afirmou Yoshihide Suga, representante do Japão na comissão. No dia 30 de junho, o país deve se retirar oficialmente.
Para Suga, a comissão é composta por países "unicamente comprometidos com a proteção das baleias, apesar dos elementos científicos que confirmam a abundância de certas espécies". Ele também afirmou que o país não caçará na Antártida nem no Hemisfério Sul.
— Uma retirada não é a melhor opção, mas é preferível para alcançar nosso objetivo principal, que é retomar a pesca comercial — destacou o diretor da Agência Japonesa de Pesca, Hideki Moronuki.
A ideia do Japão era autorizar a caça com restrições dentro da comissão, incluindo um "Comitê Sustentável de Caça às Baleias" que autorizaria a prática. Os países defensores das baleias, com Austrália, União Europeia e Estados Unidos à frente, rejeitaram o texto japonês, o que levou o país a abandonar a CBI.
Reação internacional
O governo da Austrália afirmou que está "extremamente decepcionado" com a medida japonesa e disse esperar que o país reconsidere a sua posição. A mesma posição foi seguida pela Nova Zelândia. O chanceler do país, Winston Peters, afirmou que a caça comercial de baleias é "antiquada e inútil".
O governo nipônico abre assim uma nova frente de batalha entre os críticos e os defensores da caça dos cetáceos, a qual os japoneses, especialmente os mais nacionalistas, consideram uma importante tradição nipônica.
A atividade é defendida principalmente por correligionários do atual primeiro-ministro, Shinzo Abe, do Partido Liberal Democrata (PLD), de orientação conservadora.
— Esperamos que esta decisão permita transmitir a riqueza desta cultura à próxima geração — destacou Yoshihide Suga.
As organizações ecológicas reagiram e criticaram a decisão.
— Está claro que o governo tenta fazer o anúncio de forma discreta, no fim do ano, longe do foco da imprensa internacional, mas o mundo não é bobo. A decisão do Japão está completamente defasada em relação à comunidade internacional e ignora a necessidade de proteger nossos oceanos e estas criaturas majestosas — comentou o diretor da unidade japonesa do Greenpeace, Sam Annesley.
A associação americana Humane Society International (HSI) lamentou que o Japão se transforme em uma "nação pirata" de caça às baleias.
O Japão é o maior contribuinte financeiro da Comissão Baleeira, que precisará substituir a parte de Tóquio em seus recursos. Na última temporada, os pescadores nipônicos mataram quase 600 baleias a título de expedições científicas, na Antártica e no Pacífico. Apesar desta razão oficial, a carne do cetáceo costuma parar nos balcões das peixarias.
Atualmente, porém, a maioria dos japoneses diz não consumir carne de baleia, ou fazê-lo apenas em raras ocasiões. O Japão é o maior contribuinte financeiro da Comissão Baleeira, que precisará substituir a parte de Tóquio em seus recursos.