A morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado de seu país em Istambul foi "selvagemente planejada", afirmou nesta segunda-feira (22) o porta-voz do partido no poder na Turquia, na véspera das revelações sobre o caso prometidas pelo presidente Recep Tayyip Erdogan.
Em coletiva de imprensa em Ancara, Omer Celik, porta voz do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), disse que "estamos diante de uma situação que foi selvagemente planejada e de uma mobilização de esforços consequentes para tentar dissimular" esse assassinato.
O porta-voz do presidente turco, Ibrahim Kalin, acentuou a pressão, afirmando que nada "ficará em segredo" e que os investigadores turcos vão "até o fim neste caso". A imprensa turca informou nesta segunda que os investigadores encontraram um veículo com placa diplomática saudita em um estacionamento em Istambul. O sedan preto com matrícula diplomática "34 CC 1736" foi encontrado em um estacionamento subterrâneo em Sultangazi, um distrito localizado no norte de Istambul.
A rede estatal de televisão TRT transmitiu imagens do estacionamento cercado por um cordão policial e indicou que o veículo em questão havia sido abandonado nos dias após o assassinato de Khashoggi.
A imprensa também divulgou novas informações que envolvem o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (MBS), no suposto assassinato. O jornal turco Yeni Safak afirma que o homem apontado como o líder da equipe saudita de 15 agentes enviados a Istambul para matar o jornalista permaneceu diretamente em contato com o gabinete do príncipe herdeiro, após o "assassinato".
O homem citado é Maher Abdulaziz Mutreb, membro da guarda pretoriana de "MBS", e que pode ser observado, nas imagens das câmeras de segurança, ao chegar ao consulado saudita e depois na residência do cônsul em 2 de outubro, dia do desaparecimento de Khashoggi.
No jornal Hurriyet, o colunista Abdulkadir Selvi, considerado próximo ao governo turco, afirma que Khashoggi foi imediatamente levado para o escritório do cônsul, onde foi "estrangulado" pelos agentes sauditas. "Tudo demorou entre sete e oito minutos", afirma o jornalista.
O corpo foi cortado em 15 pedaços por um médico legista integrante da equipe, completa Selvi. De acordo com o colunista, o corpo esquartejado foi retirado do consulado e levado para um local ainda desconhecido de Istambul.
As explicações de Riad sobre a morte de Khashoggi, crítico do regime, não convenceram em nada as grandes potências ocidentais. A Arábia Saudita citou um "erro monumental" para explicar a morte do jornalista, que teria sido provocada por uma "briga" dentro do consulado, uma versão considerava pouco verossímil.
Bodes expiatórios
Riad anunciou a destituição do vice-diretor do serviço de inteligência saudita, o general Ahmed al-Asiri, e de outros altos funcionários. Além disso, 18 suspeitos foram detidos. Para alguns analistas, as destituições e detenções são uma forma de apontar bodes expiatórios e de manter afastado do caso o príncipe herdeiro, verdadeiro homem forte do reino.
"MBS" não estava a par do assassinato não autorizado pelo regime, repetiu no domingo o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al Jubeir, em entrevista ao canal americano Fox News. As revelações acontecem um dia antes de um aguardado discurso de Erdogan, que prometeu revelar toda a verdade sobre a morte de Khashoggi.
Erdogan e Donald Trump concordaram no domingo, durante uma conversa por telefone, sobre a necessidade de esclarecer o homicídio de Khashoggi. Horas antes, o presidente americano acusou Riad de "enganos e mentiras" neste caso.
Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump, declarou nesta segunda que recomendou o príncipe herdeiro saudita de ser "transparente" sobre o caso. Ele também afirmou, em entrevista à CNN, que pediu a Salman que leve este caso "muito a sério".
— Estamos com os olhos abertos — assegurou.
Grã-Bretanha, França e Alemanha afirmaram em um comunicado conjunto que existe "uma necessidade urgente de esclarecimento" sobre as circunstâncias da morte "inaceitável" de Jamal Khashoggi.
A primeira-ministra britânica Theresa May também exigiu "toda a verdade sobre o que aconteceu" e condenou "o assassinado nos termos mais duros".
Além de um golpe à credibilidade da Arábia Saudita, o escândalo internacional motivou um boicote de várias autoridades ocidentais e executivo de grandes empresas a uma conferência econômica internacional - planejada pelo príncipe herdeiro - que começa na terça-feira em Riad.