Donald Trump e Kim Jong-un chegaram neste domingo (10) a Singapura. O desembarque ocorre dois dias antes de sua esperada cúpula, cujo resultado é incerto após décadas de desconfiança entre o isolado país com armas nucleares e a superpotência mundial.
O avião Air Force One do presidente americano aterrizou pouco antes das 20h30min locais (9h30min de Brasília), poucas horas depois da chegada de Kim. O arsenal nuclear de Pyongyang, que lhe rendeu várias séries de sanções do Conselho de Segurança da ONU e ameaças de ações militares do governo de Trump, será a questão central da agenda.
Encerrar formalmente a Guerra da Coreia, 65 anos após o fim das hostilidades, também estará sobre a mesa no primeiro encontro entre o líder norte-coreano e um presidente em exercício do seu "inimigo imperialista".
A cúpula de terça-feira (12) em Singapura é o clímax de uma ofensiva diplomática recente em torno da península coreana. Washington exige uma desnuclearização completa, verificável e irreversível da Coreia do Norte, mas até agora Pyongyang só prometeu publicamente um compromisso com a desnuclearização da península, um termo difícil de interpretar.
Richard Armitage, subsecretário de Estado de Washington durante o governo de George W. Bush, aposta em poucos progressos na questão-chave da desnuclearização.
– O sucesso será nos cliques das câmeras – afirma.
Trump insistiu na semana passada que a cúpula não seria "apenas uma sessão de fotos", dizendo que ajudaria a forjar um "bom relacionamento". Mas, antes de embarcar para Singapura, mudou o tom e afirmou que seu encontro com Kim é "uma ocasião única", assegurando que "desde o primeiro minuto" saberia se um acordo pode ser alcançado.
Ele também levantou a possibilidade de o líder norte-coreano visitar Washington se tudo correr bem. Mas embora a reunião tenha mérito em si, já que era um anseio de Pyongyang atendido por Trump impulsivamente em março, também levanta questões:
– As pessoas dizem que é uma cúpula histórica (...). O que é importante entender é que esta cúpula estava ao alcance de qualquer presidente dos Estados Unidos, e a questão é que nenhum presidente americano quis. Eles tinham suas razões – comenta Christopher Hill, ex-negociador-chefe dos Estados Unidos sobre a questão da Coreia do Norte.
Tensão histórica em jogo
Os dois países enfrentam-se há décadas. A Coreia do Norte invadiu o Sul em 1950, provocando uma guerra em que a Coreia do Sul foi assistida por um contingente da ONU liderado pelos Estados Unidos. O conflito terminou com um armistício que selou a divisão da península sem um tratado de paz.
Ao longo dos anos, a Coreia do Norte continuou a lançar provocações esporádicas, ao mesmo tempo em que avançava em seu programa nuclear, apresentado como uma garantia contra os riscos de uma invasão americana. No ano passado, realizou o teste nuclear mais poderoso de sua história e testou mísseis capazes de atingir o continente dos Estados Unidos, alimentando tensões, que atingiram níveis sem precedentes, com ameaças e insultos trocados entre Kim e Trump.
Mas a oportunidade proporcionada pelos Jogos Olímpicos de Inverno em fevereiro na Coreia do Sul catalisou uma série de reuniões com o líder de Seul, Moon Jae-in, que procurou pavimentar o diálogo. Kim se encontrou duas vezes com Moon e com o presidente chinês, Xi Jinping.
Pyongyang também procurou demonstrar boa vontade ao libertar americanos detidos e destruir o local onde seus testes nucleares eram realizados.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou na semana passada que "progressos" deveriam ser feitos para aproximar as posições de ambos os lados sobre o que é a desnuclearização.
Mas Trump confundiu os especialistas quando disse que não planejava se preparar muito para o encontro.
– É uma questão de atitude – declarou Trump.