O ex-presidente George W. Bush se sai muito bem quando o assunto são pinturas a óleo; ele é um bom amador. Embora tenha começado a pintar somente em 2012, a naturalidade se converteu em possibilidade real apenas um ano mais tarde. Foi nessa época que a imagem de duas pinturas estranhas e aparentemente introspectivas feitas por Bush fizeram sucesso na internet, depois de serem hackeadas do e-mail de um parente, por mostrarem discretamente o ex-presidente tomando banho.
Agora, o curioso talento de Bush é confirmado pela exposição The Art of Leadership: A President's Personal Diplomacy, que estreou recentemente na Biblioteca Presidencial e Museu George Bush, no campus da Southern Methodist University, incluindo - entre muitas outras coisas - 30 retratos de grandes líderes mundiais em óleo sobre cartão, feitos pelo ex-presidente. A exposição começa com um autorretrato presidencial que ainda precisa ser trabalhado, e uma imagem muito afetuosa de seu pai, o ex-presidente George H.W. Bush.
Eles são seguidos dos rostos de chefes de Estado como Vladimir Putin, da Rússia, com ar apropriadamente frio e impiedoso. Há retratos de Tony Blair, da Grã-Bretanha e do Rei Abdullah, da Arábia Saudita, que lembram as pinturas de Luc Tuymans - famoso artista belga que, assim como Bush, trabalha a partir de fotografias - e de Angela Merkel, da Alemanha, com olhar aberto e otimista - e femininamente pouco ameaçadora. O presidente Hamid Karzai, do Afeganistão, é retratado com um ar estranhamente preocupado. Ehud Olmert, de Israel, parece estar lendo um discurso - uma obra atraente que recorda o autorretrato de outro pintor amador visionário, o compositor Arnold Schoenberg.
Bush tem a incrível habilidade de traduzir fotografias em imagens mais estranhas, cheias de distorções e com pinceladas de mão pesada. Sua habilidade pode desconcertar algumas pessoas que amam pintura e detestam o ex-presidente, mas, ainda assim, é preciso ser sincero. Especialmente o pessoal do mundo das artes, que rechaça as pinturas antes mesmo de vê-las.
Se o retrato de Putin feito por Bush fosse um achado anônimo em algum brechó, a maioria ficaria feliz em comprá-lo. O fato de essas obras serem assinadas por Bush as torna mais complicadas, e úteis como forma de examinar a personalidade e o legado de um homem que pode ser o maior desconhecido de seu próprio mandato como presidente. Elas confirmam a versão de Bush com a qual estamos todos familiarizados: um homem que se sente tranquilo por ser quem é, e que é aparentemente aberto e charmoso, mas também é fechado e opaco. Além, é claro, de rir um pouco de si mesmo.
Nas entrevistas que concedeu antes da exposição, quando questionado a respeito dos quadros em que aparece se banhando, Bush se distanciou delas - e indiretamente ridicularizou qualquer pessoa que as tivesse levado a sério - ao dizer que só havia feito aquilo para chocar sua professora, a famosa pintora Gail Norfleet, de Dallas.
A maior surpresa da exposição talvez seja - ao contrário da imagem de preguiçoso que deixou em seus anos na Casa Branca - o fato de que Bush fez da pintura uma paixão, e está trabalhando muito duro. Ainda assim, a tranquilidade típica de Bush ainda é aparente. As imagens pareciam muito familiares, como se - conforme muitos sugeriram - tivessem sido tiradas do Google.
Mas a exposição trata de muito mais que a arte de Bush. Quase todas as pinturas são cercadas de fotos do ex-presidente cumprimentando, recebendo ou passeando com o objeto do quadro, acompanhadas de vitrines que muitas vezes exibem presentes oficiais luxuosos. Putin deu a Bush aquarelas de todos os presidentes dos EUA embaladas em um veludo ornamentado que lembra um Fabergé mal feito. Do Dalai Lama, ele recebeu um tradicional lenço de saudação branco e de Merkel uma cena de Natal multicolorida. Isso tudo oferece muitas coisas interessantes para quem não for para lá pelas pinturas, mesmo que seja o padrão das bibliotecas presidenciais.
E, naturalmente, como tudo na exposição The Art of Leadership: A President's Personal Diplomacy, as pinturas do ex-presidente o colocam no cenário mundial, onde todos estão atuando. Bush não pintou pessoas próximas a ele, que foram fundamentais para que chegasse ao poder e moldaram seus mandatos, como Karl Rove, Dick Cheney, Condoleezza Rice e Donald Rumsfeld. Em vez disso, pintou um mundo de sorrisos e amizades que dificilmente pode ser visto como a história toda. A exposição reflete uma tentativa tanto de polir o governo Bush, quanto de nos distrair de seu irmão Jeb, ex-governador da Flórida que parece estar se preparando para também concorrer à presidência.
No final das contas, essas obras se mantêm quase totalmente na superfície, em consonância com o próprio Bush e seu governo. Paradoxalmente, isso pode dizer mais sobre a arte do que sobre o próprio Bush. Os quadros nos lembram da função sorrateira da arte como evidência e de sua tendência quase inevitável de contar pelo menos parte da verdade, senão ela toda. Imagino que os críticos de arte e de presidentes se debruçarão sobre elas por algum tempo.