O presidente americano Donald Trump anunciou, na tarde desta terça-feira (8), a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, com a consequente retomada das sanções contra Teerã. Mas que acordo é esse? Por que Trump se retirou? O que vai acontecer agora? GaúchaZH responde a essas e outras questões a seguir.
Quando começou?
O chamado Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) foi assinado em Viena, no dia 14 de julho de 2015, depois de 12 anos de crise e 21 meses de intensas negociações, entre o Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido) mais a Alemanha (o grupo chamado de P5 +1).
O acordo foi implementado em janeiro de 2016, depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) certificou que o Irã cumpriu seus deveres principais.
O que prevê?
No acordo, o Irã se comprometeu a limitar suas atividades nucleares em troca do alívio em sanções internacionais. Entre as metas assumidas por Teerã estão a redução do estoque de urânio enriquecido do país — material usado para produzir combustível para reatores e armas nucleares — durante 15 anos, a limitação, no período de 10 anos, do número de centrífugas para enriquecer a substância e a modificação de um reator de água pesada, de modo que não seja capaz de produzir plutônio — substituto para o urânio usado em bombas.
O objetivo era impedir que o Irã fabricasse uma bomba atômica, garantindo ao país, que nega qualquer fim militar em seu programa, o direito de desenvolver atividade nuclear civil.
Por que Donald Trump se retirou?
O presidente dos EUA vinha criticando o texto, articulado pelo antecessor Barack Obama, desde sua campanha à Presidência, em 2016. O republicano recusou-se duas vezes a certificar ao Congresso que o Irã estava cumprindo sua parte no acordo.
Em janeiro, lançou ultimato aos europeus, dando-lhes até 12 de maio para "endurecer" as condições do compromisso. França, Reino Unido e Alemanha assumiram as negociações com os diplomatas americanos para buscar possíveis soluções.
Dentre os pontos que Trump criticava estava o período limitado de restrição às atividades nucleares do Irã, a suposta incapacidade do documento de deter o desenvolvimento de mísseis balísticos, e, por fim, a liberação de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 355 bilhões) de ativos internacionais do país que estaria sendo usada como "um fundo para armas, terror e opressão" no Oriente Médio.
Nesta terça-feira (8), o presidente norte-americano anunciou a saída dos EUA do acordo que classificou de "desastroso". Ele ainda acusou o Irã de ser "o principal Estado patrocinador do terrorismo".
Quais as consequências?
Com a saída dos EUA do acordo, Trump reinstalou sanções econômicas ao Irã "em seu mais alto nível", e disse que não será cúmplice "de um regime que pede ‘morte à América’". Ainda não se sabe quais medidas exatamente serão tomadas.
Quando o acordo entrou em vigor, a União Europeia, por exemplo, voltou a comprar petróleo do Irã, e os EUA descongelaram ativos iranianos em bancos. Montadoras de automóveis anunciaram fábricas e investimentos no Irã, e aeronaves passaram a ser vendidas ao país para substituir a caquética frota da aviação local. Há possibilidade de retrocesso nesses avanços.
É o fim do acordo?
Em teoria, não. Há outros países europeus que fazem parte e a aliança poderia sobreviver se o Irã e os outros signatários continuassem honrando seus compromissos. O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse que a volta das sanções americanas seria "basicamente o fim do acordo" e que seria "muito provável" que o Irã também o abandonasse.
O que pode acontecer agora?
Líderes dos outros seis países que integram o pacto devem reiterar sua permanência e traçar novas estratégias para lidar com a ameaça nuclear iraniana. Até mesmo Trump afirmou estar "pronto e aberto" às tratativas para um novo acordo. Mas o principal temor é de que o regime de Hassan Rouhani retome seu programa nuclear e que haja retaliações por parte de outras nações, como Israel, o que pode provocar nova guerra na região.