Após quatro dias de julgamento, o Ministério Público (MP) de Cabo Verde pediu a condenação de três brasileiros, entre eles o gaúcho Daniel Guerra, 36 anos, preso por tráfico internacional e associação criminosa. A sentença, que pode absolver ou condenar os quatro, só será conhecida em 29 de março. Os velejadores e mais um capitão francês foram presos em agosto de 2017 em um veleiro com mais de uma tonelada de cocaína. A defesa sustenta que os presos não sabiam do carregamento. As informações são do jornal Expresso das Ilhas.
Nas sustentações finais, a acusação pediu que os quatro réus sejam condenados pelos dois crimes. O MP do país africano argumentou que ninguém confiaria uma carga de uma tonelada de drogas a uma tripulação que não soubesse da existência do carregamento.
— A estrutura estava muito bem montada — disse o representante do MP, Antonio Espírito Santo.
A defesa alegou mais uma vez que os três brasileiros e o francês não sabiam que a carga estava escondida em um compartimento do veleiro. Os advogados pediram a absolvição dos quatro. Félix Cardoso, um dos responsáveis pela defesa, afirmou ao jornal local que pedirá a nulidade do processo, já que a Justiça se negou a receber documentos da Polícia Federal brasileira e de ouvir por videoconferência os depoimentos de outras testemunhas. A investigação dos policiais federais concluiu que os brasileiros não tinham conhecimento do carregamento, já que foram recrutados para levar o veleiro até a Holanda, por meio de uma agência, que fez uma postagem na internet.
— A acusação é infundada — disse.
O advogado João do Rosário, que defende os três brasileiros, afirmou que o que interessa ao Ministério Público é condenar os quatro "a todo custo". O advogado Osvaldo Lopes também considerou a acusação "fraca" e "sem qualquer prova".
— Este não é um processo com muita complexidade. Resume-se no seguinte: os réus teriam ou não conhecimento da droga? É apenas isso. Outra questão no processo tem a ver com a quantidade de droga, que cria uma pressão enorme sobre o processo, sobre o Ministério Público — afirmou.
A leitura da sentença está marcada para o dia 29 de março, já que o juiz Antero Tavares precisa de tempo para estudar as teses da acusação e da defesa.
Visita ao veleiro
Na tarde de quarta-feira (14) o juiz, os advogados e o Ministério Público estiveram no veleiro onde foi feita a apreensão da droga. Eles foram acompanhados por dois peritos para identificar se a droga realmente estava em um local de difícil acesso. O carregamento estava escondido atrás de tanques de fibra, sob o casco do navio. O perito afirmou no julgamento que a descoberta da droga era difícil, inclusive para cães farejadores, já que havia pouca circulação de ar. Segundo a polícia, foi preciso retirar dois tanques de fibra que continham água, além de rebentar uma estrutura metálica e outra de madeira para se ter acesso ao esconderijo da droga.
O caso
Além de Guerra, que é natural de Passo Fundo, estão presos os também brasileiros Daniel Dantas e Rodrigo Dantas. O francês Olivier Thomas, que era o capitão da embarcação, também está sendo julgado. O verdadeiro proprietário do barco, que teria acertado com os tripulantes para que fosse feita a travessia, foi identificado como George Saul. O inglês está foragido. Os quatro foram presos depois de terem sido obrigados a desembarcarem em Cabo Verde, por conta de um forte temporal. A droga foi encontrada pela polícia local, que havia recebido uma denúncia.