O governo da Venezuela e a oposição encerraram nesta quarta-feira (31) sem um acordo a quinta rodada de negociações na República Dominicana, mas continuarão as conversas em Caracas com as eleições presidenciais como tema de discordância.
"Restam assuntos pendentes que precisam ser discutidos em Caracas e as partes irão a Caracas para começar as consultas e poderem se reunir lá", anunciou em coletiva de imprensa o presidente dominicano, Danilo Medina.
O presidente, que mostrou ante as câmeras a "ata dos avanços da agenda para os acordos do diálogo", disse que as partes tentarão se reunir "na próxima segunda-feira para chegar a um acordo", outra vez em Santo Domingo.
Após o anúncio de Medina, Jorge Rodríguez, principal delegado do governo de Nicolás Maduro, expressou otimismo ao assegurar que haviam assinado um "pré-acordo", mas depois o chefe dos negociadores da oposição, Julio Borges, negou.
"Estamos entendidos em absolutamente a imensa maioria dos pontos da agenda", disse Rodríguez, afirmando que "alguns mínimos detalhes vão ser dilucidados nas próximas 72 horas em Caracas para "assinarem o acordo definitivo" na segunda-feira.
Ao falar com a imprensa, Borges manifestou que "não foi assinado nenhum pré-acordo" e que "a única coisa que há em preto e branco são aqueles aspectos nos quais há avanços".
"Ou se alcança um acordo, ou não se alcança um acordo, e teríamos que encerrar o capítulo nesta etapa", acrescentou o chefe negociador da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Maduro lamentou, de um ato em Fuerte Tiuna -principal complexo militar da Venezuela-, que Borges negasse a assinatura de um pré-acordo. "Peço a Deus que em 72 horas possamos celebrar na Venezuela um acordo de paz", acrescentou.
Nenhuma das partes detalhou em que pontos houve aproximações, ou em quais há divergências.
"A data das eleições é um dos temas que se discute", confirmou à AFP um importante negociador da MUD, que pediu para reservar seu nome.
- Garantias e tempo -
Nas negociações, a oposição exige "garantias" para as presidenciais, que a governista Assembleia Constituinte decidiu há uma semana que serão realizadas antes de 30 de abril.
"Estamos exigindo eleições limpas, mas com tempo para fazê-las com garantias", disse em Caracas o deputado Luis Florido, negociador opositor que ficou de fora desta rodada em protesto pelo adiantamento das eleições.
Segundo um assessor da oposição, na mesa também está a recente decisão do máximo tribunal de justiça (acusado de servir ao governo) de excluir a MUD das presidenciais argumentando que é uma aliança de vários partidos e que não é permitido a dupla militância.
A oposição também pede a retirada do desacato declarado pelo tribunal contra o Parlamento de maioria opositora e uma renovação do poder eleitoral, o qual assinala de governista.
"O fundamental não está acordado", assegurou Colette Capriles, assessora da MUD.
O governo pede apoio para reverter as sanções econômicas que Washington impôs à Venezuela em agosto.
As partes também discutem saídas à severa crise econômica e social, com uma hiperinflação projetada pelo FMI em 13.000% para 2018, e escassez de comida e remédios.
Na terça-feira, Maduro acusou os Estados Unidos de estarem pressionando a MUD para boicotar um acordo. Pouco depois, a embaixada americana em Caracas pediu ao governo que tenha coragem de reformar o poder eleitoral e acordar com a oposição uma data para as eleições.
O chefe da diplomacia americana, Rex Tillerson, viajará a partir desta semana para México, Argentina, Peru, Colômbia e Jamaica, onde buscará consolidar uma frente contra o governo venezuelano.
- Maduro em campanha -
Maduro, cuja candidatura será oficializada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) no domingo, começou sua campanha à reeleição com atos populares e propaganda na televisão.
Enquanto isso, a oposição não definiu se escolherá seu candidato nas primárias ou por consenso, e nem sequer tem claro quais de seus partidos poderão disputar as eleições.
A Constituinte ordenou aos três maiores partidos da MUD voltarem a se inscrever ante o poder eleitoral para irem às presidenciais, pois não participaram das eleições de prefeitos, em dezembro, ao dizerem que as de governadores, em outubro, foram fraudulentas.
O Ação Democrática alcançou as assinaturas necessárias, mas o Primeiro Justiça não as conseguiu e deve tentar novamente no final de semana. Já o Vontade Popular, fundado por Leopoldo López (em prisão domiciliar), decidiu não se reinscrever.
No encontro em Santo Domingo estiveram como facilitadores representantes de Nicarágua, Bolívia e Chile, e o ex-chefe de Governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero. O México abandou a mesa após rejeitar o adiantamento das eleições.
O Chile ameaçou nesta quarta-feira suspender "indefinidamente" sua participação no diálogo caso não se chegue a um consenso entre as partes que assegure eleições presidenciais democráticas.
* AFP