Novas manifestações foram convocadas nesta sexta-feira (5) no Irã para apoiar o regime, horas antes de o Conselho de Segurança da ONU se reunir para tratar do assunto, a pedido dos Estados Unidos.
No dia anterior, Washington anunciou novas sanções a cinco empresas do Irã, acusadas de participar no programa de mísseis balísticos de Teerã.
Entre 28 de dezembro e 1º de janeiro, a onda de protestos, principalmente contra o alto custo de vida, chegou a diversas cidades do país. Em algumas ocasiões, teve um tom mais político e provocou atritos violentos que deixaram 21 mortos, em sua maioria manifestantes.
Contudo, a situação voltou ao normal nos últimos dias, com uma forte mobilização das forças de segurança.
As autoridades iranianas acusam a CIA, Israel e a Arábia Saudita de estarem por trás dos distúrbios, apoiando "grupos contra-revolucionários" e os Mudjahedines do Povo, o principal grupo de oposição no exílio.
"Os eternos companheiros de cama, Arábia Saudita e o grupo Estado Islâmico (EI), seguindo a linha de Trump, aprovaram a violência, os mortos e as destruições no Irã. Por que deveríamos nos surpreender?", tuitou o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif.
Na sexta-feira, o governo iraniano anunciou a prisão de quatro membros de uma "célula terrorista" ligada aos Mudjahedines, na província de Lorestão (oeste).
Pelo terceiro dia consecutivo, nesta sexta-feira as mobilizações em apoio ao governo vão acontecer na província de Teerã e em várias cidades, para condenar a atuação de "agitadores" que aproveitaram-se de manifestações "legítimas" da população contra as dificuldades econômicas atravessadas pelo país.
"Estamos aqui para demonstrar que podemos solucionar nossos problemas por nós mesmos, e que não permitiremos nunca que a Arábia Saudita, os Estados Unidos e Israel intervenham", declarou à AFP Mohsen, engenheiro que protestava em Teerã.
- Identificação -
Em alguns casos, as manifestações foram acompanhadas de atos de vandalismo, e centenas de pessoas foram detidas.
A polícia instou a população a "enviar [para a polícia] os vídeos e imagens de ações contra a segurança", de acordo com a imprensa.
Além disso, as autoridades publicaram fotos de manifestantes envolvidos nos distúrbios para pedir à população que ajude a identificá-los.
Todos os grupos políticos denunciaram a violência dos protestos, argumentando que as demandas legítimas da população devem ser atendidas.
Alguns simpatizantes do presidente Hasan Rohani, moderado, acusaram grupos conservadores de ter provocado as manifestações de Mashhad para obter benefício político, algo que eles negaram, insistindo que o Executivo deve mudar de política econômica para aliviar a pressão sobre as classes mais desfavorecidas.
O Parlamento rechaçou a ideia de subir em 50% o preço da gasolina, como prevê o orçamento.
"O preço da eletricidade, da água, do gás não vão mais aumentar", acrescentou nesta sexta-feira Gholamreza Gharmsar, membro da direção do Parlamento.
- 'Sem nenhuma vergonha' -
Desde o início dos protestos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem expressado seu apoio aos manifestantes.
A pedido dos americanos, uma reunião do Conselho de Segurança da ONU será realizada nesta sexta-feira para discutir a situação no Irã, uma ação denunciada pela Rússia.
"Os Estados Unidos continuam interferindo em assuntos internos de outros países, fazem isso sem nenhuma vergonha", afirmou o vice-ministro russo Serguei Raiabkov, citado pela agência de imprensa Interfax.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também acusou "alguns países, sobretudo Estados Unidos e Israel" de envolverem-se "nos assuntos internos" do Irã.
O secretário americano do Tesouro, Steven Mnuchin, vinculou a decisão aos protestos recentes contra o governo, argumentando que o Irã deveria gastar mais no bem-estar público do que em armas proibidas.
Para o Departamento de Estado, as autoridades iranianas devem "prestar contas" pela repressão.
Já o procurador-geral iraniano, Mohammad Jafar Montazeri, voltou a acusar os Estados Unidos, Israel e a Arábia Saudita de terem provocado os atos violentos.
"O projeto de criar insegurança e distúrbios no Irã começou há quatro anos", declarou Montazeri, citado pela agência Isna, apontando diretamente contra Michael D'Andrea, responsável da CIA para o Irã.
Anteriormente, o Irã havia protestado junto a ONU contra a "interferência" dos Estados Unidos, que acusou de agitar os distúrbios.
* AFP