O general reformado Michael Flynn, ex-conselheiro de Segurança Nacional do presidente Donald Trump, se declarou culpado de ter mentido para o FBI sobre seus contatos com funcionários russos. Em delação premiada, Flynn afirmou ter sido orientado pela equipe de transição do presidente americano eleito a discutir, com o embaixador da Rússia, sanções que o governo de Barack Obama havia imposto em resposta à interferência de Moscou nas eleições de 2016.
"Meu gesto de me declarar culpado e meu acordo para cooperar com o escritório do procurador especial são reflexo de uma decisão tomada em defesa dos interesses de minha família e de meu país", declarou o ex-conselheiro em uma nota oficial.
O general disse que foi "extraordinariamente doloroso" enfrentar durante vários meses a acusação de traição e disse que "essas falsas acusações são contrárias a tudo que fez e defende".
"Mas reconheço que as ações que admito hoje no tribunal foram equivocadas e, pela minha fé em Deus, estou trabalhando para fazer o que é correto", alegou. "Aceito a responsabilidade plena por meus atos", concluiu.
Flynn, 58 anos, aceitou o acordo de delação depois de ser acusado de prestar "falso testemunho em um assunto sob jurisdição de um setor do Poder Executivo do governo dos Estados Unidos", informou o Departamento de Justiça em um breve comunicado oficial. Na época, o general negou que tivesse discutido as sanções com o embaixador russo, Sergei Kislyak.
Em dezembro do ano passado, quando já havia sido escolhido por Trump para ser conselheiro de Segurança Nacional do governo em formação, Flynn manteve contatos com Kislyak. Nessa conversa, Flynn discutiu com o embaixador a necessidade de evitar uma escalada de tensões entre Washington e Moscou, visando às sanções que o governo de Obama impunha naquele momento à Rússia.
De acordo com as acusações, os contatos do general Flynn com o diplomata russo foram acertados com integrantes de alto nível da equipe de transição de governo.
"Flynn consultou altos funcionários da equipe que conduzia a transição para o novo governo antes e depois de ter várias conversas com Kislyak, revela o documento publicado nesta sexta-feira (1º) pelo Departamento de Justiça.
O falso testemunho do ex-conselheiro de Segurança Nacional também teria dificultado a investigação sobre caso.
"O falso testemunho de Flynn e suas omissões dificultaram e tiveram um impacto material na investigação do FBI sobre a existência de ligações, ou de coordenações (entre a equipe de campanha de Trump e Moscou)", aponta o documento.
A Casa Branca afirmou, por sua vez, que a admissão de culpa de Flynn não afeta ninguém além do próprio general.
"Nada na admissão de culpa ou nas acusações envolve ninguém mais que o senhor Flynn", destacou o advogado da Casa Branca, Ty Cobb, em nota na qual também se referiu ao general de três estrelas como "um ex-funcionário do governo Obama".
A admissão de culpa de Flynn é consequência da investigação conduzida pelo procurador especial independente, Robert Mueller, sobre o eventual conluio entre o comitê de campanha de Trump e funcionários russos, durante a eleição presidencial de 2016.