A Argentina viveu nesta quarta-feira uma onda de protestos com bloqueios de vias públicas que devem antecipar a tensão de uma greve geral nacional. Milhares de ativistas provocaram engarrafamentos em diversos pontos de Buenos Aires, em movimento iniciado às 7h, com colunas que partiram da esquina entre a Avenida Corrientes e a Rua Callao, espalharam-se pela capital do país e interromperam dezenas de ruas e estradas.
Para a quinta, está prevista reunião da principal central sindical, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), que agendará greve geral para entre 4 e 6 de abril. Será a culminância de uma série de protestos, como o que reuniu as centrais do país no último dia 7. Para pressionar a CGT, a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) já marcou sua paralisação para 30 de março. É possível que essa medida antecipe os planos da CGT, que se unificou depois de passar por anos de fragmentação. A CTA pretende promover as greves no mesmo dia.
Deputado federal e um dos três presidentes da recentemente reunificada Confederação Geral do Trabalho (CGT), Héctor Daer (Partido Justicialista) adiantou a Zero Hora que "o conselho diretivo (da CGT) vai se reunir para definir se haverá uma medida de força e em que data ela ocorrerá”.
A questão é: o que poderia deter essa "medida de força"?
– O governo teria que anunciar uma mudança forte na sua política de aperto por uma política de desenvolvimento, defendendo a nossa indústria, deixando de transferir aos que mais têm e aos que mais ganham. Também teria de reduzir os juros, porque as altas taxas servem apenas para a banca financeira. As bases da atual política financeira são determinadas em detrimento dos interesses mais vulneráveis. O modelo deveria contemplar a todos – diz o sindicalista.
Daer, que divide a coordenação da CGT com Juan Carlos Schmid e Carlos Acuña, disse que a central tentou o diálogo, mas "se combinaram as demissões e os aumentos de preços com uma inação do governo, e essa acumulação de fatores nos leva a uma posição mais firme".
Conforme Daer, a manifestação do dia 7 "foi uma das maiores e mais importantes dos últimos 30 anos". A intenção da CGT é manter a unidade dos movimentos. As centrais partem do pressuposto de que sempre que os sindicatos se voltaram contra o governo em manifestações críticas a medidas tidas como negativas aos trabalhadores, o presidente se enfraqueceu. Raúl Alfonsín e Fernando de la Rúa (ambos da União Cívica Radical, a UCR) se viram obrigados a abreviar seus mandatos em meio a greves e protestos sindicais.
Nas manifestações de ontem, um dos líderes da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP, entidade próxima do papa Francisco), Juan Grabois, disse, em entrevista coletiva:
– O governo tem uma enorme dívida social. Foi aprovada uma lei (em 2016) para aumentar os subsídios, mas ainda não se mobilizou um único centavo para a luta contra a indigência.
Na Argentina,
1/3
da população de 42 milhões de habitantes está em situação de pobreza, segundo dados oficiais. Desde que Mauricio Macri assumiu a presidência, em dezembro de 2015, mais de
1,5 milhão
de pessoas entraram na linha de pobreza, segundo o Observatório Social da Universidade Católica. O desemprego está em torno de
10%,
de acordo com o instituto estatal Indec. No Brasil, é de 12,6%, segundo o IBGE.