O presidente em fim de mandato da Gâmbia, Yahya Jammeh, declarou neste sábado que deixará o poder, após 22 anos no cargo, depois da mediação da Guiné e da Mauritânia, com a ameaça de uma operação militar dos países da região.
"Decidi hoje, com a consciência tranquila, ceder o comando desta grande nação com uma infinita gratidão a todos os gambianos", afirmou em uma declaração transmitida pela televisão estatal.
O país estava afundado em uma profunda crise depois que Jammeh anunciou no dia 9 de dezembro que não cederia o poder a Adama Barrow.
Barrow, de 51 anos, que venceu as eleições no dia 1º de dezembro, precisou finalmente jurar o cargo na quinta-feira à tarde na embaixada de seu país em Dacar.
Após múltiplas tentativas de persuadir Jammeh, os presidentes da Guiné, Alpha Condé, e da Mauritânia, Mohamed Uld Abdel Aziz, viajaram na sexta-feira a Banjul para uma última mediação.
"Minha decisão de hoje não foi decidida por nada mais que o interesse supremo por vocês, o povo da Gâmbia, e por nosso querido país", disse Jammeh.
Vários países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) enviaram tropas à Gâmbia para pressionar Jammeh após o juramento de Barrow.
A operação, batizada de "restaurar a democracia", foi lançada pouco depois de Adama Barrow assumir a presidência.
- Perda de apoios-chave -
Agora seus passos serão seguidos de perto.
"Num momento em que presenciamos problemas e medos em outras partes da África e do mundo, a paz e a segurança da Gâmbia são nossa herança coletiva que devemos guardar cuidadosamente e defender", acrescentou o presidente em fim de mandato.
Acusado de violar os direitos humanos por muitas ONGs internacionais, Yahya Jammeh, que chegou ao poder em 1994 com um golpe de Estado, dirige desde então o país com mão de ferro.
Durante as negociações, várias fontes das delegações indicaram que um dos pontos importantes era qual país receberá Jammeh.
"As coisas estão quase solucionadas. Jammeh aceitou deixar o poder. As negociações continuam sobre o lugar do exílio e as condições que devem acompanhar este exílio", indicou uma fonte mauritana à AFP antes do anúncio.
Uma fonte da Guiné indicou que devem "encontrar um país longe o suficiente da Gâmbia para impedir que Yahya Jammeh interfira no processo democrático".
O chefe do Estado-Maior do Exército, o general Usman Badjie, durante muito tempo considerado um pilar do regime, decidiu na sexta-feira apoiar o presidente Barrow, assim como o chefe da polícia, Yankuba Sonko, e das alfândegas, Momat Cham, indicou à AFP uma fonte governamental.
Badjie disse que, se houvesse uma intervenção estrangeira para garantir a saída de Jammeh, os militares seriam recebidos "com uma xícara de chá", e não com tiros.
* AFP