Quando pequena, Jennifer Bricker acompanhava pela televisão a equipe de ginástica feminina dos Estados Unidos. Se apaixonou definitivamente pelo esporte quando viu Dominique Moceanu, de origem romena como ela, ganhando uma medalha de ouro em equipe nas Olimpíadas de Atlanta de 1996.
Mesmo sem as duas pernas, Jennifer insistiu no sonho de ser ginasta, conquista incentivada pelos pais adotivos, Gerald e Sharon. Criada em Illinois, ela sabia que vinha da Romênia, mas só descobriu sua história aos 16 anos, quando a mãe revelou um segredo: ela era irmã da famosa ginasta Dominique Moceanu, a quem via como inspiração.
– Fui atraída por ela porque éramos parecidas e isso era muito importante para mim. Eu não conhecia outros romenos. Me via nela de tantas maneiras que aquilo era muito importante para mim – disse Jennifer em entrevista à BBC.
Quatro anos após a revelação, Jennifer escreveu uma carta a Dominique, que já tinha 26 anos, estava grávida e afastada das competições. Ao contar sobre o parentesco entre elas, e como a campeã olímpica a havia influenciado, Jennifer provocou uma reviravolta na vida de Dominique.
– Aquela carta foi o maior choque da minha vida, eu nunca vou esquecer – disse Dominique.
Gerald e Sharon Bricker, os pais adotivos de Jennifer, sempre souberam o sobrenome dos pais biológicos da filha, e viram, pela televisão, durante as Olimpíadas de Atlanta, Dimitru e Camelia Moceanu na plateia, focados pelas câmeras. Seguraram o segredo até que Jennifer ficasse mais velha.
A justificativa dada pelo casal Moceanu foi que não tinham dinheiro para cuidar da filha deficiente. Dedicados à ginástica, eles imigraram para os Estados Unidos em 1981 para fugir do regime comunista na Romênia. Dominique cresceu num ambiente rígido, de humilhações e castigos físicos, sendo cobrada pelos pais a ser a próxima Nadia Comaneci, fenômeno da ginástica.
Quando Dominique pediu aos pais uma explicação para o abandono de Jennifer, descobriu que foi Dimitru quem escolheu dar a menina assim que ela nasceu. Camelia não havia sido consultada pelo marido e não nunca desabafou sobre a filha perdida para a primogênita Dominique e para a caçula Christina. Segundo Jennifer, a mãe viveu um relacionamento abusivo, que terminou com a morte de Dimitru.
Jennifer não chegou a conhecer o pai biológico, mas ao entender a história da família, ela e as irmãs chegaram à conclusão que aquele não seria um ambiente propício para uma menina deficiente crescer. Em 1998, quando Dominique tinha 17 anos, processou os pais acusando-os de gastarem o dinheiro que havia recebido nos jogos de Atlanta. Ao ganhar a ação, Dominique assumiu o controle da própria vida.
Amada por Gerald e Sharon, Jennifer cresceu incentivada a subir em árvores e a pular de trampolins, sem ficar com receio por não ter as pernas. Os pais rejeitaram o conselho de um médico de transportarem a menina num balde. Jennifer aprendeu a usar as mãos e o quadril para se locomover, e com apenas 11 anos conquistou a primeira medalha na ginástica.
Hoje, Jennifer dá palestras motivacionais e faz shows de acrobacia aérea. Numa turnê da cantora Britney Spears, em 2009, fez uma apresentação.
– Como irmã mais velha, tenho orgulho de Jennifer. Ela está realizando seus sonhos – disse Dominique.