As Ilhas Marshall esperam o pronunciamento da justiça internacional, que na quarta-feira deve decidir se aceita o processo do arquipélago contra três potências nucleares, ao mesmo tempo que muitos moradores do pequeno Estado do Pacífico questionam a pertinência deste combate de Davi contra Golias.
O arquipélago de 55.000 habitantes apresentou uma demanda contra Índia, Paquistão e Grã-Bretanha na Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia, com acusações que estes países não abandonaram a corrida pelas armas nucleares.
Inicialmente, o objetivo das Ilhas Marshall era ainda mais ambicioso, pois a demanda incluía China, França, Coreia do Norte, Rússia, Estados Unidos e Israel, apesar deste país nunca ter confirmado possuir armamento atômico.
Mas o processo só pode seguir adiante se os países objeto da ação reconhecem a autoridade da CIJ na questão.
As Ilhas Marshall têm uma dolorosa relação com as armas atômicas. O arquipélago é um dos poucos países que podem falar com conhecimento de causa de seu impacto.
Entre 1946 e 1958, o governo dos Estados Unidos testou 67 armas nucleares de diferentes potências nos atóis de Bikini e Enewetak, quando as Ilhas Marshall estavam sob administração americana.
A bomba de hidrogênio Castle Bravo, testada em 1954, é considerada mil vezes mais potente que a bomba atômica lançada sobre Hiroshima em 1945.
Muitos moradores foram retirados de suas terras e milhares de pessoas se viram expostas aos efeitos radioativos.
"Várias ilhas foram destruídas ou se tornaram inabitáveis por milhares de anos", afirmou em Haia o ex-chanceler Tony deBrum.
DeBrum iniciou o processo na CIJ em 2014, com a ajuda da Nuclear Age Peace Foundation, associação com sede na Califórnia.
Por este motivo teve o nome apresentado como um candidato ao prêmio Nobel da Paz de 2016.
Mas alguns moradores das ilhas consideram o processo desnecessário por não ter relação com as verdadeiras reivindicações das vítimas: indenizações maiores, um sistema de saúde melhor e a limpeza dos locais afetados para que voltem a ser habitáveis.
A CIJ decide na quarta-feira se tem competência para julgar a ação contra Índia e Paquistão, e sobre as "exceções preliminares" apresentadas pelo Reino Unido.
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