Colombianos envolvidos na exploração de jogatina ilegal e agiotagem já não são vistos nas ruas de Canoas. Os dois esquemas ilegais praticados por esses estrangeiros foram revelados há pouco mais de um ano pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI).
Como mostrado em duas séries de reportagens, migrantes da Colômbia vinham se dedicando a bancar o Bono a Estrela, modalidade de jogo similar a bingo, com venda de cartelas e sorteio de sequências de números premiados. Totalmente proibido, porque no Brasil inexiste autorização, de modo geral, para apostas que não sejam controladas pelo governo federal.
As vendas aconteciam em Canoas e em pontos da zona norte de Porto Alegre, como os bairros Humaitá e Rubem Berta. Nesses mesmos locais, alguns colombianos praticavam agiotagem (empréstimo de dinheiro, a juro extorsivo e seguido de ameaças aos devedores). Eles foram flagrados em vídeos e áudios, gravados pela reportagem, oferecendo financiamentos sem qualquer regulamentação e loterias ilegais.
As revelações do GDI deram início a duas investigações policiais. A primeira, sobre o Bono a Estrela, foi conduzida pela Polícia Civil. Equipe coordenada pelo delegado Daniel Mendelski realizou a prisão de 11 operadores da loteria ilegal, sete colombianos e quatro brasileiros. Os vendedores foram detidos em flagrante na Rua 17 de Abril, no bairro Guajuviras (Canoas), enquanto vendiam bilhetes e faziam sorteios do bingo clandestino. Eles foram indiciados por exploração de jogo de azar, uma contravenção penal (prática irregular considerada de menor potencial ofensivo), cuja pena máxima é de dois anos de prisão.
Libertados horas depois da detenção, os 11 presos se comprometeram a comparecer na Justiça e assim o fizeram. Nas audiências judiciais na 4ª Vara Criminal de Canoas, concordaram em fazer um acordo de transação penal, mediado pelo Ministério Público. Esse tipo de medida implica no indiciado aceitar cumprir pena antecipada de multa ou restrição de direitos. Alguns pagaram multas acima de R$ 1 mil, outros concordaram em prestar serviços à comunidade. Nenhum deles foi enviado a presídio e o processo foi suspenso — podendo ser reativado, se forem flagrados descumprindo as condições acertadas e agindo fora da lei.
O GDI percorreu, nesta semana, ruas de diversos bairros de Canoas onde os vendedores do Bono a Estrela agiram durante o ano passado, como Guajuviras, Mathias Velho, Estância Velha e Rio Branco. Em nenhum dos locais usados para sorteios, anteriormente, a reportagem localizou os colombianos ou seus prepostos brasileiros. Populares disseram que as vendas diminuíram desde a prisão dos operadores e zeraram após as enchentes de maio.
Com relação à agiotagem, também controlada e operada por colombianos, a Polícia Civil abriu uma investigação com base nas reportagens do GDI. Foram ouvidas algumas vítimas, mas elas relutaram em revelar o esquema de extorsões. Um colombiano que atuava como segurança para os agiotas — e que disse aos repórteres que o crime é controlado por cartéis do tráfico da Colômbia — prestou depoimento à Polícia Civil e narrou detalhes do aliciamento de seus compatriotas para praticarem crimes no Brasil. Esse homem virou testemunha e a investigação foi repassada à Polícia Federal, para possível checagem de tráfico de imigrantes para o território brasileiro.
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