A lista de reclamações de clientes da Construtora Martins não se resume a atrasos no início das obras contratadas, a projetos inacabados e a casas não entregues. No caso da vendedora Juliana Raupp Marcelo, 33 anos, foram várias situações enfrentadas. A mais grave foi o desabamento do sobrado quando ele ainda estava em construção.
A Construtora Martins, empresa de vendas de casas pré-fabricadas e de alvenaria com sede na RS-118, em Viamão, na Região Metropolitana, foi tema de reportagem do Grupo de Investigações (GDI) da RBS, por ser alvo de reclamações de dezenas de compradores. Os clientes relatam que a empresa cobra adiantado parte do custo dos imóveis, incluindo material de construção e mão de obra, mas não cumpre os prometidos prazos de entrega, que, em geral, variam de 50 a 60 dias, conforme o modelo encomendado.
O estabelecimento seria identificado por, pelo menos, três empresas com razão social, telefones e Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) distintos. Registros na Receita Federal e na Junta Comercial do Rio Grande do Sul apontam que duas das empresas estão extintas.
Em janeiro de 2016, a vendedora Juliana e seu marido, Rafael Marcelo, 30 anos, moravam em uma casa de madeira em um terreno vizinho à casa dos pais dela, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Como dispunham de poupanças suficientes para acalentarem o sonho de ter uma moradia de alvenaria, investiram R$ 52 mil no pagamento à vista de um sobrado.
Para dar espaço à construção, eles providenciaram o desmanche da casa de madeira e passaram a residir, momentaneamente, em uma pequena peça nos fundos do terreno.
— O compromisso deles era terminar a obra em, no máximo, seis meses. Em setembro daquele ano (2016), tentei relatar que as paredes estavam tortas, com ferros inadequados, e a chapa, caindo. Vimos que a estrutura era fraca. Mas não conseguíamos falar com ninguém. Era um estresse, pois eles não atendiam. Fomos tratados muito mal lá — lembra a vendedora.
Em um sábado do mês seguinte, de acordo com Juliana, eles perceberam rachaduras nos tijolos. Tentaram, novamente em vão, comunicar a empresa. Na segunda-feira, quando a vendedora retornou após uma saída de casa, teve uma grande surpresa.
— Encontrei a casa caída. A obra, que estava visivelmente muito mal feita, virou um grande entulho. Por sorte, o pedreiro disse que não estava sendo pago e, por isso, não apareceu naquele dia. O pior foi que um dos fiscais da empresa teve a capacidade de colocar a culpa na chuva — conta.
Uma nova batalha foi iniciada pelo casal. A obra teria de começar da estaca zero. Isso, depois de o terreno ser limpo. Mas os contatos com os representantes da empresa seguiam raros.
— Quando nos venderam, foram muito bonzinhos e atenciosos. Depois, até fugiam da gente — relata a vendedora.
Entre novos atrasos, paralisações da obra, ora por inexistência de material, ora por falta de mão de obra, a casa acabou sendo entregue, parcialmente concluída, em agosto de 2017. Ou seja: com um ano e dois meses de atraso em relação ao prazo contratual.
— Tive que pagar por fora pela colocação do gesso, pela algerosa (equipamento utilizado para o escoamento da água da chuva, junto ao telhado). E fiquei aquele tempo todo sem poder trabalhar — conclui Juliana.
A reportagem tenta contato com os responsáveis pela empresa, mas, até agora, não obteve retorno.