O M.Grupo apostou em Gravataí para a maior parte dos seus investimentos no Estado. Foi o Majestic, o prédio que seria o mais alto do Estado, mas nunca saiu do chão, mais duas torres comerciais (Unique), que tiveram obras paralisadas em 2014, além de um residencial (Jardins do Shopping), com 286 apartamentos.
De todas as promessas do complexo imobiliário, apenas o Shopping de Gravataí, inaugurado em novembro de 2013, virou realidade. Ainda assim, por falta de pagamento à financiadora do empreendimento, a Ápice Securitizadora, o M.Grupo acabou perdendo a propriedade do imóvel.
Os três empreendimentos inconclusos na cidade – dos quais um nem teve início – atraíram 345 pessoas que ainda aguardam por seus imóveis. No terreno em que era para ser erguido o Majestic, o arranha-céu de 42 andares, apenas o mato cresceu.
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Shopping de Gravataí deve R$ 1,5 milhão só em contas de luz
Lojistas que apostaram no Shopping de Gravataí foram da euforia à decepção desde a abertura do maior centro de compras da cidade. Inaugurado pelo M.Grupo em 2013, o empreendimento tem 160 espaços comerciais. Os fracassos dos empreendimentos vizinhos teriam sido determinantes para o fraco desempenho do shopping.
O dono do restaurante Jeff Gril, Allan John Scorçato, 33 anos, não esconde o desencanto:
– Nos venderam um shopping com torres comerciais e prédios residenciais ao lado. Eu esperava ver um shopping lotado.
Problemas de gestão também espantaram clientes. O M.Grupo não pagou por meses as contas de luz, o que resultou em cortes em janeiro deste ano e por 22 dias de fevereiro, quando foi preciso de gerador. Por um dia o shopping ficou às escuras, pois o gerador não deu conta. A dívida com a RGE é de R$ 1,5 milhão.
As contas do Shopping de Gravataí foram esvaziadas pelo MGrupo, em fevereiro, após a decisão da Justiça de afastá-lo da administração. Em maio, a Justiça determinou a devolução de R$ 1,5 milhão, sob pena de responsabilização criminal.
Ao afastar o M.Grupo do shopping, a juíza Keila Silene Tortelli, da 1ª Vara Civil de Gravataí, escreveu: "A crise financeira (da empresa) estende-se a quase todos os shoppings e negócios do M.Grupo, e parece decorrer da má administração e desorganização financeira".
Compradores se organizam para concluir as obras do residencial
As três torres residenciais que seriam inauguradas ao lado do shopping e do que seria a maior torre comercial do Estado, em Gravataí, começaram a ser vendidas em 2010. Os 286 apartamentos tinham previsão de entrega para dezembro de 2013. Em 2014, quando parou, a obra estava 47% pronta.
Orçado em R$ 20,7 milhões, o residencial teve R$ 18,6 milhões financiados pelo Banco do Brasil – dos quais 63% foram liberados. Das três torres de doze andares, duas estão com alvenaria edificada enquanto a outra parou entre o oitavo e o nono andar.
A Justiça destituiu o M.Grupo do empreendimento, transferindo-o para a associação de compradores em junho do ano passado.
– Estamos em tratativas para que o Banco do Brasil libere o dinheiro (necessário para concluir a obra) - afirma o advogado da associação, Rafael Paiva Nunes.
O apartamento era um sonho do empresário Edgar Braga Farias, 51 anos.
– Estou há três anos pagando por um apartamento parado, é uma decepção – lamenta.
O que seria a primeira conquista do casal de administradores Débora Medeiros, 29 anos, e Carlos Guimarães, 31, virou um transtorno. Em 2010, eles acertaram a compra do imóvel. A partir daí, começaram a planejar a mobília.
– Venderam um sonho. Sabe aquele sonho de casal que está começando uma vida? Pensamos quais móveis iriam na cozinha, quais iriam na sala – lembra Débora, que hoje vive em um apartamento alugado.
Proprietário de um restaurante em Gravataí, Agnaldo Januário, comprou à vista uma unidade no Jardins e outra no Unique – duas torres comerciais ao lado do shopping. Pretendia morar no Jardins e foi atraído pela oferta de uma sala com rendimento garantido do aluguel por cinco anos.
– Coloquei dinheiro e investimento que poderia ser feito em outro local. O sentimento é de perda e trapaça.
Quando comprou, em 2010, esperava estar habitando o apartamento em dois anos e alugando a sala comercial no mesmo período. A sensação de ter feito um bom negócio, fechado há sete anos, hoje é de desprezo e desleixo por parte da construtora.
Obras das torres comerciais do Unique já foram retomadas
Outro imóvel que o M.Grupo deixou inacabado e que deve ser concluído graças à iniciativa dos compradores é o Unique Business Center - o empreendimento com salas comerciais que integra o complexo de Gravataí junto ao shopping, às torres residenciais e ao que seria o Majestic. Com 75% pronto, o Unique é formado por duas torres com nove pavimentos e três de andares de estacionamentos. Terá dinheiro injetado diretamente pelos 70 compradores de 190 de suas 234 salas comerciais.
Em média, cada unidade custou R$ 150 mil, mas ainda serão necessários R$ 25 mil por unidade. O trabalho dos operários começou em maio e tem previsão de ser encerrado em oito meses.
O Unique surgiu como alternativa de investimento em 2011 para profissionais liberais e empresas. O M.Grupo garantia alugar o imóvel para terceiros, com dividendos aos compradores por até cinco anos. Grande parte, inclusive corretores de imóveis, pagou à vista, adquirindo mais de uma sala. Mas o M.Grupo usou o empreendimento como moeda de troca para outros negócios, como a cedência de 10 salas na compra do Aldeia Shopping, de Xangri-Lá, e 23 salas na compra de uma propriedade em Bom Princípio, no Vale do Caí.
A previsão era de que o Unique fosse inaugurado em 2013, mas obra se prolongou até o começo de 2014 e parou. Como os contratos previam locação a partir de julho daquele ano, o M.Grupo começou a repassar os valores dos aluguéis, mesmo com a obra inacabada.
O dentista Luís Eduardo Schneider, 42 anos, de Novo Hamburgo, comprou três salas para si e outras seis em sociedade com parentes e colegas de trabalho. Recebeu os repasses, mas apenas por 18 meses.
– Era um investimento pensando no futuro da família – lamenta Schneider.
A palavra de Lorival Rodrigues, sócio do M.Grupo
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Sobre a venda de salas dos dois prédios do Unique, em Gravataí, e sobre a alienação junto ao Banco do Brasil (o DGI apurou que a obra do Unique está 75% concluída).
Uma incorporadora vende unidades, pois é regra do crédito a produção ter um percentual mínimo vendido para começar a liberar recursos conforme a medição. No Unique, foram vendidas unidades e contratado financiamento do Banco do Brasil. Alguns clientes pararam de pagar, e o banco parou de liberar recursos. Hoje, o Unique tem 90% pronto, faltando o Banco do Brasil liberar os recursos para a conclusão. E estamos renegociando com clientes para equalizar os atrasos dos pagamentos.
Sobre venda de salas do prédio Majestic, que não foi construído em Gravataí (o GDI apurou que compradores de salas ingressaram na Justiça cobrando a devolução de valores pagos).
O projeto Majestic é uma grande perda para o Estado. Após um ano aprovado, no momento que já estávamos com uma empreiteira contratada e um fundo de investimento proposto a financiar a obra, o órgão que cuida do espaço aéreo, que é de Curitiba, travou o projeto. As poucas unidades vendidas foram recompradas pela incorporadora.
Sobre o fato de a administração do shopping de Gravataí não pagar contas de energia elétrica.
Quem paga as contas de energia é o condomínio do shopping. Houve inadimplência, então fizemos diversos aportes para pagar os valores devidos. Quem fez má gestão foi a presidência do país, que, em menos de quatro anos, criou uma recessão que nos fez perder uma década de investimentos.
Sobre obras interrompidas nas torres residenciais de Gravataí (o GDI apurou que a obra está 47% concluída).
Trata-se de um projeto vinculado ao Minha Casa, Minha Vida. O Banco do Brasil parou de pagar as medições de obra. Entramos com processo para receber e o projeto ser concluído. Neste momento, a obra está 73% concluída.