Um policial militar usa viaturas da Brigada Militar para levar e buscar uma menina na escola, ir ao mercado e levar a mulher no posto de saúde. Por oito dias, entre 14 e 30 de março, o Grupo de Investigação do Grupo RBS (GDI) flagrou o policial Juliano Wieczorek da Rosa, do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM) da Capital, utilizando carros da corporação para fazer atividades particulares.
Nos oito dias que a reportagem acompanhou os passos do soldado, ele deixou a menina em uma escola do bairro Tristeza, Zona Sul de Porto Alegre, entre 7h35min e 8h e retornou para buscá-la ao meio-dia – exceto em um dia, em que a menina retornou caminhando para casa.
Sempre sozinho, Rosa usou diferentes viaturas. Entre os dias em que foi acompanhado pela reportagem, utilizou um Fiesta (placas IVQ-2497), uma Duster (placas IUW-5918) e um Prisma (placas JBM-2601), todos identificados como veículos oficiais.
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Na manhã da terça-feira, dia 21 de março, deixou, às 7h44min, a menina na escola com uma Duster da BM. Dali, seguiu até uma obra de um edifício em acabamento, também no Bairro Tristeza, e retornou para casa, em uma rua no Bairro Camaquã. Da caminhonete estacionada em frente a sua residência, retirou um carrinho de mão que estava no porta-malas. No final da mesma manhã, buscou a garota na escola e a levou para casa. Assim que a menina saiu do carro, ele retirou do porta-malas um botijão de gás e uma bombona de água. Dali em diante, a Duster ficou estacionada em frente a sua casa, por uma hora e vinte três minutos, das 12h11min até as 13h34min.
Na quinta-feira, dia 23, além de deixar a menina na escola, às 7h45min, levou a mulher à Unidade Básica de Saúde (UBS) Camaquã, às 10h, onde permaneceu por uma hora com o Fiesta da BM estacionado dentro do pátio da UBS. Na sequência, por volta das 11h, passou em um mercado na Rua Padre João Batista Reus, entre os bairros Tristeza e Cavalhada, enquanto a mulher permaneceu no carro. Neste dia, não buscou a menina na escola.
Na última quinta-feira, em 31 de março, a Duster usada pelo policial ficou estacionada em frente à casa dele das 12h às 13h37min, horário em que ele voltou com o veículo para o quartel da 2ª Companhia do 1ºBPM. Mais de uma vez, Rosa ultrapassou o sinal vermelho ou fez o retorno em local não permitido.
Soldado da Brigada Militar desde 2009, Rosa atua na 2ª Companhia do 1ºBPM, com sede na Tristeza. Segundo o major Fabio Kuhn, responsável pela unidade, Rosa, além de fazer policiamento de rua, é encarregado de cuidar do conserto das viaturas e é considerado um policial "volante", acionado para ir a pontos comerciais e bancos, quando necessário. Por isso, segundo o major, tinha autonomia para usar a viatura e andava frequentemente sozinho no carro.
Segundo o comandante do 1º BPM, tenente-coronel Alexandre Brite da Silva, o patrulhamento de rotina é realizado em dupla:
– Em algumas missões menores podemos mandar só um. Mas a regra geral são dois, por uma questão de segurança.
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CONTRAPONTO
- O que diz o policial Juliano Wieczorek da Rosa, do 1º BPM:
A reportagem ligou para Rosa na manhã desta segunda-feira. Após ser informado sobre o motivo do contato, porém, ele encerrou a ligação. A reportagem voltou a ligar por mais quatro vezes, ele atendeu em uma delas, mas voltou a encerrar a ligação.
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Brigada abre IPM para investigar uso de viatura
O comandante do 1º BPM, tenente-coronel Alexandre Brite da Silva, afirma que o uso de viatura para atividades pessoais do servidor é irregular:
– Não é permitido, em hipótese alguma, que um servidor use veículo da instituição para serviços particulares, até porque precisamos dele para o trabalho de polícia ostensiva. Quando o servidor tem uma dificuldade, nós tratamos em apoiá-lo com alguma viatura de serviço administrativo.
A Bridada Militar abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso. O procedimento tem 40 dias para ser concluído, prorrogáveis por mais 20:
– Será feita uma investigação séria para verificar este caso, vamos apurar se há indício de crime ou transgressão disciplinar. A gente dá um pouco de confiança pra ele executar as missões, se ele está cometendo uma irregularidade, terá que responder por isso – garante Brite.
A localização das viaturas da Brigada Militar não é feita em tempo real pela corporação, embora, segundo o comandante do 1º BPM, a maior parte dos carros do batalhão possui GPS, exceto alguns que estragaram e não foram repostos.
– Quando acontece alguma distorção, irregularidade, aí consultamos o GPS. É o que vamos fazer agora.
O comandante frisa que desde que ele assumiu o batalhão, em julho do ano passado, não é comum chegar este tipo de denúncia a respeito da conduta dos policiais. Mesmo assim, ele afirma que a corporação está a aberta a denúncias da população:
– Fazemos questão de dizer que se houver mais um tipo de denúncia sobre o batalhão, vamos receber as pessoas e ouvi-las para demonstrar isenção da corporação.
Segundo o comandante Brite, as sanções para o caso vão de advertência verbal até prisão, dependendo da avaliação final do inquérito.