A Vara Criminal de Santana do Livramento acatou solicitação da delegada Ana Tarouco, da Polícia Civil, e determinou a suspensão do credenciamento das lotéricas conveniadas do bicheiro Mário Kucera, de Bagé, com a Caixa Econômica Federal e o Banrisul. O Judiciário deverá fazer a notificação dos bancos.
Kucera é apontado pela PC como o chefe da banca de jogo do bicho em Bagé, com ramificações em diversas cidades gaúchas da Campanha e do Noroeste. O dinheiro ilícito da jogatina seria lavado por ele em duas lotéricas da Caixa e uma loja com ponto de pagamento de contas do Banrisul, todas em região de grande circulação no centro de Bagé. Conforme a investigação, os três estabelecimentos estão em nome de supostos laranjas usados por Kucera, que teria admitido, em ligações grampeadas, ser o verdadeiro proprietário. Pelas contas das empresas e de outros prepostos, o bicheiro teria movimentado R$ 480 milhões não declarados nos quatro anos analisados pela investigação.
A delegada Ana Tarouco justificou seu pedido ao destacar que, enquanto "deixavam de fazer declaração de imposto de renda ou registravam pequenos ganhos, as lotéricas estavam movimentando milhões em suas contas". A volumosa circulação de dinheiro no sistema bancário foi descoberta a partir de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Com a suspensão, os estabelecimentos não poderão ser mais operados por tempo indeterminado, ao menos até o fim do processo. Na terça-feira, Kucera foi o alvo principal da operação Deu Zebra. Desde então, ele está preso em Santana do Livramento, base das investigações, pelas suspeitas de exploração de jogo ilícito, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O chefe de Polícia, Emerson Wendt, afirmou que a ação foi a maior ofensiva da história da instituição contra a lavagem de dinheiro no Rio Grande do Sul. A delegada tem prazo de dez dias para finalizar o inquérito e remeter os indiciamentos à Justiça.
Advogado de Kucera, Décio Lahorgue assegurou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos" e refutou o uso de lotéricas para lavagem de dinheiro.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – disse Lahorgue.