Recuperar parte da memória gaúcha e despertar o interesse de novas gerações na história do Estado. Essas são duas propostas do Vultos Rio-grandenses, um projeto do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG-RS) que recria imagens de personagens emblemáticos para o Rio Grande do Sul por meio de ferramentas de inteligência artificial (IA).
O trabalho utilizou fotografias e quadros que sobreviveram à passagem do tempo para elaborar materiais de sete nomes da Revolução Farroupilha. As primeiras imagens foram enquadradas e serão expostas em um museu no sul do Estado a partir de sexta-feira (18).
A ideia do projeto foi de Jeandro Garcia, diretor de pesquisa e difusão cultural do MTG-RS. Ele relata ter visto que um grupo de estudiosos havia divulgado uma imagem de José Gervasio Artigas (1764-1850), principal nome da independência do Uruguai, obtida com o uso de softwares de inteligência artificial.
A aparência do líder uruguaio é envolta em mistério: acredita-se que ele não tenha posado para elaboração de um retrato, algo comum à época para os “libertadores” da América do Sul do domínio da Espanha.
— Vi essa notícia e pensei que poderia fazer o mesmo com Bento Gonçalves —resume Garcia.
Ideia em mente, o MTG contratou o designer gráfico Milton Frank, que atua com colorização e restauração de fotos antigas. O profissional foi munido com registros históricos - fotografias antigas e retratos pintados há décadas - de protagonistas da Revolução Farroupilha, obtidos em pesquisas feitas pela entidade tradicionalista.
A imagem de Bento Gonçalves, por exemplo, foi feita a partir de um quadro exposto no Museu Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Já o material de Giuseppe Garibaldi utiliza com base uma fotografia feita nos últimos anos de vida do italiano; o conteúdo, porém, foi “rejuvenescido”, para mostrar como era Garibaldi à época da Revolução Farroupilha. O mesmo processo ocorreu com Antônio Ribeiro, escravizado e corneteiro do Bento Gonçalves.
— Pegamos uma foto do Antônio Ribeiro e “regredimos” para a idade que ele tinha na época da Revolução Farroupilha. Não utilizei (na reprodução) a roupa que ele usava na foto: coloquei nele um traje de lanceiro negro. No Photoshop (programa de edição de imagem), fiz o ajuste fino dos olhos, da boca: esses traços a inteligência artificial não conseguiu reproduzir bem — conta Jeandro Garcia, também responsável pelas reproduções.
Eficiente na maioria dos materiais, os softwares de AI utilizados no projeto, Midjourney e TopazLab, não foram capazes de restaurar o material existe de David Canabarro:
— A imagem que tínhamos de referência dele era pequena, de baixa qualidade. A inteligência artificial teve muita dificuldade para reproduzir o rosto, que foi praticamente refeito, na “mão mesmo”, dentro do Photoshop — afirma o representante do MTG.
Da pesquisa à finalização das sete imagens, os profissionais dedicaram 3o dias, cada foto com cerca de 13 horas de trabalho. Outros personagens da história gaúcha devem ser retratados no projeto Vultos Rio-grandenses: João Cezimbra Jacques, precursor do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Sepé Tiaraju, guerreiro indígena, Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, presidentes do Rio Grande do Sul, Zeca Netto e Honório Lemes da Silva, figuras da Revolução de 1923.
O MTG utilizou as reproduções para quadros que serão expostos no Parque Histórico General Bento Gonçalves, em Cristal, no sul do Estado, para onde devem ser levados na sexta-feira (18). Segundo a entidade, há tratativas para exposições em outros dois museus no Estado. Somado a isso, diversos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) já solicitaram as imagens para reproduzi-las nesses locais. Outra forma de mostrar o projeto ao público por meio de uma conta no Instagram dedicada às reproduções.
— Não é um trabalho de simplesmente transformar pinturas ou imagens antigas em quadros. Temos uma preocupação grande em atrair novos públicos para o tradicionalismo. Quando as pessoas olham um quadro pintado antigo, elas têm dificuldade de se conectar com o personagem. Um foto gera uma proximidade, sente que a pessoa foi real. O objetivo é este: fazer fotos boas para que as pessoas conheçam mais os personagens da nossa história — finaliza Jeandro Garcia.