Misturar tradição com tecnologia não é fácil, mas a gauchada parece estar tirando de letra. Desde o surgimento dos eventos da Semana Farroupilha, em 1947, esta será a primeira vez que os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) do Rio Grande do Sul não ficarão com os salões lotados para os tradicionais bailes e fandangos. Mas nem por isso os entusiastas da cultura local deixarão de comemorar a data embalados pelos ritmos gaudérios.
Grupos musicais, que nesta época estariam rodando o Estado para fazer uma verdadeira maratona de shows, estão se virando de outras formas para levar a música gaúcha a todos os cantos do Rio Grande do Sul. GZH conversou com Edson Becker Dutra, gaiteiro fundador e vocalista do conjunto Os Serranos, para saber como o grupo está se virando para manter as tradições neste momento de pandemia. Logo após a entrevista, confira a agenda de lives do grupo.
Como vocês estão enfrentando esse período de isolamento e quais estratégias para manter a chama da tradição acesa nos gaúchos?
Não está sendo fácil, nesta época já estaríamos na estrada há muito tempo. Em anos anteriores, chegamos a fazer 27 shows só no mês de setembro. Eram muitas viagens, muitas festas e sempre sendo muito bem recebidos pelo público. Sempre recebemos muito carinho e atenção das pessoas. Mas Os Serranos são pioneiros em muitas coisas e se adaptar às novidades já faz parte de nós. Desde março, quando começou a pandemia e fizemos nosso último show presencial, passamos a nos organizar para fazer lives. A primeira já foi dia 10 de maio e, de lá para cá, aprendemos muito. Já fizemos várias outras apresentações e tem sido uma experiência muito interessante. Essa é a forma que encontramos de manter essa chama acesa.
Esse momento é também de oportunidades?
Sim, é de muito aprendizado. Tivemos um grande sucesso na primeira live e desde lá aprendemos muitas coisas técnicas sobre esse tipo de transmissão. Eu, por exemplo, tive pela primeira vez a oportunidade de cantar junto ao meu filho para o público, mesmo que tenha sido um público virtual. Além disso, nos demos conta de que a internet proporciona uma visibilidade muito grande à música gaúcha. Até então, tínhamos poucas oportunidades fora daqui, mesmo a nossa música sendo tão brasileira quanto as demais. Com a internet, o alcance é muito maior e as canções e a cultura regional chegam a todo o país.
Como fica a relação do artista com o público sem a proximidade física?
É muito difícil, mas estamos aprendendo. Tu tens que usar a imaginação, fazer de conta que estás sendo prestigiado ao vivo. Às vezes, nossos assessores, que cuidam das transmissões, dão um retorno dizendo quantos estão nos assistindo, de onde são. Sinto carência do público. As pessoas também, elas perguntam quando os eventos voltarão. Mas nesse período temos que estar unidos, mesmo que distantes. Eu encontro motivação de seguir pelo profissionalismo. Já estou acostumado com adversidades, nosso grupo está acostumado e é preciso ter muito gosto pelo que se faz para ultrapassar esses momentos. Tocar sem público é um baita desafio, mas imaginando que eles estão ali, relembrando as plateias, fica mais fácil.
Tradição combina com tecnologia?
Com certeza. E aqui não falo só da internet, mas de toda tecnologia que vamos agregando ao tradicionalismo há décadas. Desde a iluminação do palco dos shows, passando pelos equipamentos mais modernos, telões, entre outros. Os Serranos são pioneiros em muitas dessas coisas. Mas tudo isso só funciona se mantivermos intactos os alicerces da nossa tradição, das nossas raízes. Desde a saudação ao público, passando pelas vestimentas e escolha das músicas, tudo isso precisa estar conectado com os costumes, com a história do Rio Grande do Sul. As evoluções precisam acontecer porque o próprio nome é Movimento Tradicionalista Gaúcho. Se fosse algo estático, não evoluiria junto com a sociedade. A cultura não tem limites, mas ela precisa ser norteada por alguns alicerces. Neste caso, os da tradição gaúcha.
O MTG vem promovendo uma série de eventos digitais. Essa novidade veio para ficar ou passa junto com a pandemia?
Essa mídia é importantíssima e agora entendemos isso mais do que nunca. Mesmo quando a pandemia passar, temos que cuidar para manter todos esses canais de divulgação. Se a tradição quiser se manter viva, ela tem que caminhar de mãos dadas com a evolução. Quem disse isso foi Paixão Côrtes há muitas décadas. Ele queria que os valores fossem cultivados de qualquer forma. E é neste sentido que estamos construindo nossa trajetória.
Confira a agenda das próximas lives do grupo Os Serranos
Dia 19 de setembro, às 21h
- Live Especial Semana Farroupilha
- Canal oficial dos Serranos no YouTube, neste link
Dia 20 de setembro, às 15h
- Bolicho Schin
- Neste link da Semana Farroupilha
Dia 26 de setembro, às 20h
- A live será direto do Theatro São Pedro, em comemoração à Semana Farroupilha
- Será transmitida pelas redes sociais: O Bairrista, Theatro São Pedro e YouTube oficial dos Serranos