Aos 13 anos, Elisandro Figueiró já tem uma certeza na vida: ele quer ser piloto de avião, e, neste domingo (13), ele ficou um pouquinho mais perto da sua paixão. O adolescente ficou conhecido no abrigo para vítimas da enchente em São Leopoldo pelas suas maquetes de aeronaves e o Apoio Aéreo em Situações Especiais (Ases) decidiu realizar um dos seus sonhos, levando-o para o seu primeiro voo.
Ele e sua mãe, Veridiana Figueiró, foram duas vezes vítimas de eventos climáticos em 2024. No início do ano, eles se mudaram para São Leopoldo após serem afetados pela forte chuva que atingiu Porto Alegre. Alguns meses depois, eles foram novamente atingidos, dessa vez pela enchente que afetou o Rio Grande do Sul em maio e precisaram ir para um abrigo no município, e foi nesse local que o sonho de Elisandro ficou conhecido.
Através do pai, que faleceu no início do ano, o adolescente aprendeu a criar maquetes e sua habilidade chamou a atenção da técnica em enfermagem e voluntária, Jéssica Mantelli. Durante uma ação de doações de brinquedos no abrigo em que a família Figueiró estava, Jéssica descobriu o talento de Elisandro e a sua paixão por aviões. Como forma de reconhecer e incentivar o trabalho do garoto, ela decidiu comprar algumas das suas maquetes e ajudá-lo na venda de outras.
Com papel, isopor, cola, palitos de madeira e rodinhas de carrinhos de brinquedo, Elisandro recria miniaturas fiéis de diversos modelos de avião. O trabalho minucioso do adolescente foi apresentado pela Jéssica ao Ases, que atuou em diversos momentos de forma voluntária em resgates para reunir familiares que ficaram isolados devido à enchente. Para comemorar os 20 anos de atuação e realizar o sonho do jovem artesão, um voo especial foi feito pelos voluntários do Ases.
— Os aviadores se uniram e conseguiram encaixá-lo num voo do Ases, através do Programa de Apoio Aéreo Humanitário chamado de Residência Ases, que é quando pilotos voluntários da aviação geral são observados e treinados por instrutores nas melhores práticas de transporte aéreo de passageiros e de segurança operacional em apoio a pessoas em tratamento médico longe de casa e situações de calamidade pública — explica João Madruga, um dos fundadores da iniciativa e atual coordenador.
O voo em que Elisandro participou é um dos muitos treinamentos que o Ases realiza com a sua rede de pilotos voluntários. O objetivo é prepará-los para atuar em momentos de extrema urgência. A associação sem fins lucrativos se consolidou como uma referência no apoio aéreo humanitário no Brasil ao montar uma rede de voluntários. Ela reúne pilotos e proprietários de aeronaves particulares para auxiliar em resgates, transporte de doações e também pessoas que precisam realizar longas viagens terrestres para tratamento médico.
Às 10h deste domingo, Elisandro embarcou pela primeira vez em um avião. No Aeroclube de Canela ele pôde conhecer de perto uma aeronave e decolar. No encontro com os pilotos, ele apresentou e até vendeu algumas das suas miniaturas. Além disso, o adolescente também testou o seu conhecimento, que chamou a atenção, sobre aeronaves com brincadeiras feitas pelos voluntários do Ases.
Junto com o piloto, Marcelo Sulzbach, e o co-piloto, João Henrique de Freitas, ele participou de uma simulação de realocação familiar, atividade que foi realizada diversas vezes durante a enchente em maio. A aeronave voou para Caxias do Sul ao encontro de Jéssica e, em seguida, às 10h45min, os quatro voaram até Novo Hamburgo, onde Veridiana esperava pelo filho.
No final do passeio, Elisandro estava sem palavras para descrever a felicidade. Tudo chamou a sua atenção, desde conhecer pessoalmente um avião pela primeira vez a voar em um. Após ajudar a realizar o sonho do adolescente, a técnica em enfermagem compartilhou o que ouviu do garoto:
— Ele diz que eu dei a esperança de volta pra ele. A sensação de ajudar alguém a concretizar um sonho tão simbólico, como o de voar, trouxe um forte sentimento de propósito.
Além do voo e o apoio com a venda das miniaturas, Jéssica também ajudou a família a conseguir uma casa e segue em busca de mais. Através da instituição Per Amore Associação em Saúde, ela procura formas de conseguir uma bolsa de estudos para incentivar Elisandro a seguir o seu sonho de ser um piloto de avião.