O programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, recebeu, na manhã desta segunda-feira (1º), o professor do Instituto de Pesquisas Hidroviárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), Fernando Fan, o presidente da Associação Hidrovias do Rio Grande do Sul, Wilen Manteli, e o diretor de Meio Ambiente da Portos RS, Henrique Ilha, para debater o sistema de dragagens de rios para contenção de cheias.
O procedimento de dragagem consiste na limpeza, desassoreamento, alargamento, desobstrução, remoção, derrocamento ou escavação de material do fundo de rios, lagoas, mares, baías e canais.
Para o professor do IPH, Fernando Fan, a dragagem de rios para proteção de cheias deve ter todas as consequências estudadas, assim como os gastos:
— A dragagem tem sido entendida por muitas pessoas como aquela solução que vai resolver o problema das cheias, e além do custo, que é bastante elevado tem a questão dos efeitos colaterais. É muito importante que seja feito a batimetria (estudo e análise do fundo de rios, lagos ou outros corpos d'água), e isso não é rápido. Se eu pular as etapas de levantamento da área do fundo do rio, de fazer um cálculo de qual vai ser o benefício dessa dragagem e o cálculo de qual é o efeito colateral dessa dragagem, por exemplo, que pode ser afetar uma população abaixo, uma cidade abaixo para tentar salvar uma de cima. Não é algo assim definitivo para agora, e se de fato é uma zona que deposita (no leito dos rios), vem um perigo adicional. Se essa é a minha solução, eu vou ter que investir essa grande quantidade de recursos recorrentemente, né? Porque cada grande cheia vai depositar, eu tenho que ir lá e dragar de novo. Então não é uma solução que é definitiva.
De acordo com Fan, as dragagens não são soluções de curto prazo.
— Não é uma solução para amanhã. É algo assim, para seis meses a um ano para a gente tomar uma medida efetiva, com garantias — ressaltou
Já para o presidente da Associação Hidrovias do RS, Wilen Manteli , o problema da dragagem no Rio Grande do Sul é antigo, mas que hoje existem tecnologias que podem ajudar neste processo.
— Hoje a tecnologia é perfeita. Cabe é contratar uma empresa séria e boa, né? E uma orientação aí dos especialistas para não agredir o meio ambiente. Hoje é possível que se contrate bem — ele ainda reforçou a necessidade da dragagem das hidroviárias gaúchas para a economia:
— Nós movimentamos aí, em média nos últimos anos, dezenove milhões de toneladas entre o Interior e o Porto de Rio Grande. Dezenove milhões vão para a exportação. Se nós não recuperarmos logo esses canais de navegação, nós vamos ter um problema seríssimo nesse momento, que a gente precisa manter as empresas. Tem que fazer é a batimetria imediata do que que precisa tirar. Não tem trânsito de passageiro nem de carga? Não há necessidade de fazer agora. Mas esses canais que são tradicionais, esses têm que ser atacados imediatamente.
O diretor de Meio Ambiente da Portos RS, Henrique Ilha, citou um estudo feito recentemente com o IPH, por meio de modelagens, que demonstrou que as dragagens não representariam grande diferença na enchente que atingiu o Estado em maio e que é necessário pensar em obras estruturais para contenção:
— Acho que nós temos, talvez alguns aspectos específicos, tratados ali muito próximos a Porto Alegre, entre a Usina do Gasômetro e a Zona Norte, nós percebemos uma declividade muito grande no curso do Guaíba, né? Então isso talvez nos ajude a projetar outras obras estruturais, pensar um pouco melhor no muro (da Mauá), na quantidade de bombas, trabalhar um pouco também com as estruturas. Com as modelagens, acho que vamos ajudar a customizar esse olhar mais próximo desses problemas para poder entender qual o tamanho da solução eventual para não piorar o impacto das grandes enchentes.
Ele completou falando que dragar os rios é um componente obrigatório para navegação, mas uma briga com a natureza:
— Eu acho que a dragagem é um componente obrigatório para todos os processos de navegação, agora, ela é uma atividade que nós estamos lutando contra a natureza, vamos dizer assim, com aquilo que a tentativa de equilíbrio que o ambiente natural sempre busca, nós vamos fazer um movimento contrário.
Quanto a possíveis soluções, além das dragagens, Fan apresentou um estudo, encomendado pela Agência Nacional de Águas (ANA) que traz dados de custo quanto às previsões e monitoramento de rios.
— Para medidas não estruturais de monitoramento de rios, a cada R$ 1 investido a gente conseguiria retornar mais de R$600 em danos evitados no Brasil, em sistemas de monitoramento, alerta e tudo mais. Então, assim, é uma proporção grande, né? A gente tem que sempre colocar soluções em perspectiva e tomar a melhor decisão, que permite proteger mais pessoas, né?