A forte chuva que atingiu o Rio Grande do Sul nos últimos dias voltou a castigar o Vale do Caí. Em Montenegro, cidade com pouco mais de 64 mil habitantes, 1.280 pessoas estão fora de casa, sendo 1.100 desalojados, nas casas de parentes e amigos, e 180 pessoas desabrigadas.
Os atingidos estão sendo acolhidos na escola São José. Segundo a prefeitura, o Rio Caí vem retornando gradualmente ao seu leito desde a manhã desta terça-feira. Às 9h, ele estava com 7m58cm de altura, às 14h, baixou para 7m46cm, mas na segunda-feira (17), o Caí chegou a 7m61cm. A cota de inundação na cidade é de seis metros.
Os bairros mais atingidos foram Industrial, Ferroviário, Centro e Olaria. Durante a manhã, uma equipe do Corpo do Bombeiros percorreu as ruas da cidade que foram alagadas efetuando resgates e monitorando a situação.
Segundo o capitão da 1ª Companhia do 2º Batalhão de Bombeiros, Tiarles Gularte, a corporação realizou dezenas de salvamentos, tanto de pessoas quanto de animais.
— Tem idosos, crianças, acamados. Mas, como aqui tem reincidência de alagamentos, já existe uma estrutura bem ordenada que a gente vem aperfeiçoando a cada cheia — diz o capitão.
Fábio Xavier, 43 anos, pediu apoio aos bombeiros para resgatar seu pai, Cláudio Xavier, 65, que estava acamado e precisava fazer hemodiálise. Ele mora em uma residência na Rua Assis Brasil, no centro de Montenegro, que estava completamente alagada. A corporação se deslocou de barco até a casa e efetuou o resgate do idoso. Fábio lembra que a água subiu muito rápido desde o fim da tarde de segunda-feira e que por isso optou por pedir ajuda.
— Meu pai está acamado fazendo hemodiálise e não pode falhar. Ele não tinha feito por dois dias. É uma incerteza constante. Em menos de 40 dias, quatro enchentes. É muito triste ver os familiares perdendo tudo, como a minha mãe e os meus amigos. Quem sabe no futuro tenha uma solução para isso — diz.
Lixo e entulhos espalhados
Pelas ruas, o contraste entre trechos alagados e pontos secos foi evidenciado pela luz solar vigorosa que predominou na manhã de terça-feira. A água da enchente arrastou e espalhou pelas ruas móveis e entulhos que estavam nas calçadas. A localidade conhecida como “caisinho”, em frente à Câmara de Vereadores, foi totalmente encoberta pela água do Caí.
Morador da Rua Coronel Apolinário Moraes, no bairro Industrial, o barbeiro Pedro Machado, 59, o Machadinho, conta que a água alcançou a frente do seu estabelecimento durante a madrugada. Desta vez, contudo, não passou do primeiro degrau da entrada, mas no mês passado a água foi a quase dois metros.
— Eu fiquei até a 1h nervoso, naquela expectativa, achando que ia entrar água, mas não entrou. Agora, dá uma chuvinha e já alaga tudo. Muda toda a nossa rotina — comenta Machado.
Alcemar Camargo Jr., 25, mora há 18 anos em Montenegro com a mãe, Loreni Dutra de Melo, 60, na Rua Otaviano Moogen, no bairro Insdustrial. Segundo ele, as cheias na região são constantes, mas como as últimas ele afirma que nunca havia visto. Desde a chuva do fim de semana, mãe e filho estão ilhados em casa, com o pátio inundado. Porém, em maio ele precisou abandonar a casa com água pela cintura e perdeu tudo o que tinha.
— Em comparação com a do mês passado, essa está tranquila. No momento a gente vai ficar ali, porque não temos condições de ir para outro lugar. Do jeito que estão vindo essas enchentes a gente nunca sabe o dia de amanhã — lamenta Camargo.