Os resgates no bairro Mathias Velho, em Canoas, na Região Metropolitana, seguem nesta manhã de terça-feira (7). Tem pessoas de lugares distantes e de diferentes idades salvando vidas, dezenas de voluntários e muita determinação nos olhos de quem chega para auxiliar. O cenário de tanta dor e tristeza poderia ser outro, mas, infelizmente, não é.
Moradora do bairro Igara, Charla Coimbra, 37 anos, colocava um colete salva-vidas e se preparava ao lado do marido para colocar o jet-ski na água. Os salvamentos se concentram no viaduto perto da Estação Mathias Velho da Trensurb.
— Onde moro, não fomos afetados, mas meu sogro morreu afogado e ainda está lá embaixo (em uma parte remota do Mathias Velho) — afirma ela.
Segundo Charla, na parada 20, a água está com mais de sete metros de altura. No próprio local de onde partem e chegam os barcos, placas de trânsito estão com água quase até o topo.
— O povo que está lá ainda (à espera de resgates) não quer sair de casa. Eles têm medo de assaltos — diz.
Porém, sem água potável e comida, a situação se agrava. Os relatos de assaltos têm sido constantes. Durante a noite de segunda-feira (6), houve episódios de tiros. Assaltantes e traficantes se escondem em áreas mais distantes e roubam os barcos de quem chega.
O sol era intenso em torno das 11h desta terça enquanto os salvamentos eram realizados na Avenida Rio Grande do Sul. Neste momento, já não se vê aquela procissão de embarcações em constante vaivém. O momento é de resgate aos animais.
O policial Diego Bayard, da Brigada Militar, conta que o bairro é o que apresenta agora mais problemas em relação à segurança. Ele e sua família vivem em Canoas. Perderam tudo. A cheia devastou o que juntou ao longo da vida.
— Perdi tudo, mas somos o pilar de sustentação — comenta, após ser questionado como consegue trabalhar em meio a tantas perdas.
Casas ficaram submersas em diferentes pontos da cidade. Mais de 20 mil pessoas estão em 88 abrigos. E duas delas perderam a vida. Morreram exatamente no bairro Mathias Velho. Tudo isso em um panorama tomado pelas águas.
A Força Nacional acompanha as demais autoridades de resgate. Um drone estava sendo levantado por agentes para localizar mais pessoas nos telhados e ver as zonas mais críticas.
O motoboy André Origuella, 39, veio de Itapema, em Santa Catarina, para ajudar. Ele estima que ajudou no resgate de 400 cachorros apenas na segunda-feira:
— Tiramos bastante idosos, autistas, cachorros. Muita gente não saiu de casa com medo dos saques.
Em um espaço perto dos resgates, os animais estão sendo abrigados. Recebem água, ração e atendimento veterinário. A reportagem de GZH esteve no local. Muitos voluntários auxiliam e alguns reclamam da falta de apoio do poder público. Eles têm nos braços marcas de mordidas ou arranhões, porque os pets ficam assustados na hora dos resgates.
A prefeitura do município está cadastrando abrigos voluntários para ter condições de criar um banco de dados confiável com o número de desabrigados. Os pontos de resgate funcionam em bairros como Mathias Velho, Fátima, na avenida Coronel Vicente e no Parque Eduardo Gomes.
Lista de itens pedidos por voluntários no bairro Mathias Velho:
- 1 caminhão que possa recolher o lixo
- 1 contêiner de lixo
- Lonas grossas azuis para servirem como cobertura
- Cestas básicas
- Água potável
- Ração para animais
- Itens de higiene
- Cordas
- Cobertores
- Colchões
- Pallets
- Papelões
- Jornais
- Medicamentos veterinários injetáveis
- Antibióticos, anti-inflamatórios e remédios para dor