Com a experiência de quem ainda vive uma crise urbanística própria — que obrigou 60 mil pessoas a mudarem de endereço em cinco anos —, agentes da Defesa Civil de Maceió (AL) estão desde domingo (12) no Rio Grande do Sul. A missão do grupo de 19 pessoas é ajudar no mapeamento de áreas de risco e no levantamento dos danos aos municípios gaúchos.
Além de identificar regiões seguras para o retorno da população, os alagoanos listam imóveis que poderão ser reconstruídos e, portanto, estão sujeitos ao recebimento de recursos do poder público.
A expertise dos profissionais, agora aplicada no RS, foi desenvolvida durante o afundamento do solo de Maceió no último ano. O colapso de minas de sal-gema exploradas pela empresa Brakem na Lagoa do Mundaú, na capital alagoana, recebeu atenção internacional em 2023 e levou a bairros inteiros da cidade, como Mutange, Farol, Bebedouro e Bom Parto, a serem completamente esvaziados.
A equipe que veio ao Rio Grande do Sul conta com profissionais como engenheiro civil, engenheiro eletricista, geógrafo, engenheira especializada em agrimensura, geólogo, assistente social e psicólogo, além de comunicador social. O grupo alagoano está atuando no Vale do Taquari, a partir da sede montada pela Defesa Civil nacional em Lajeado, na Universidade do Vale do Taquari (Univates).
A reportagem de GZH conversou nesta quarta-feira (15) com o coordenador geral da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre. Confira a seguir.
Chamou a atenção alguma situação aqui do Rio Grande do Sul parecida com o que vocês viveram em Maceió?
Estivemos em uma área chamada Tamanduá (Distrito de Tamanduá), em Marques de Souza, e houve um deslizamento bastante significativo, uma área que não era de risco e, agora, se tornou uma área de risco, que deve ser monitorada. Isso é um pouco parecido com o que a gente convive lá em Maceió. Temos alguns técnicos em alguns municípios. Acredito que só na quinta ou na sexta-feira a gente vai ter um feedback real de cada situação. Tem equipes que estão em Muçum, Encantado, Roca Sales, Cruzeiro do Sul e Lajeado, e uma que está indo para Putinga.
Existem paralelos entre o que vocês estão fazendo aqui no Rio Grande do Sul e o que vocês aprenderam com a situação de Maceió?
A gente trabalha com dois drones que conseguem fazer sobrevoo e o trabalho de mapeamento mesmo com chuva. É um equipamento que nem a Defesa Civil nacional tem e trouxemos para cá. Isso ajuda muito por conta da tecnologia e do conhecimento que desenvolvemos em Maceió. A gente aguarda que essa etapa seja concluída, ou pelo menos parcialmente, para saber se a população pode voltar ou não para aquela localidade, qual risco que ainda existe, se aquela área terá que ficar sendo monitorada, se pode ser reconstruída ou não, etc.
Assim como em Maceió foram instalados sismógrafos, equipamentos que monitorem áreas de risco serão necessários aqui de uma forma mais contundente a partir de agora?
O risco ao qual a população está exposta nesse caso de enchentes requer certos equipamentos que não são, a princípio, para o solo como a gente faz lá em Maceió. Seriam sensores nas bacias dos rios — para verificar em tempo real o nível dos rios — um sistema de alerta para a população, um sistema de pluviômetros em lugares específicos para saber também em tempo real o volume de chuvas e para dar tempo realmente de avisar a população. Acho que vai ficar uma lição de investir em tecnologia, em salas de monitoramento, de alerta, como fizemos lá.
Na sua experiência profissional, você já tinha visto algo parecido com o que está vivendo hoje o Rio Grande do Sul?
Foi algo ímpar. Eu estive aqui em setembro do ano passado, já fiquei bastante impactado com o que eu vi, com o que eu presenciei em Muçum e Roca Sales. Mas o que aconteceu agora eu não tenho, na minha vida profissional, como comparar. Foi um evento extremo, de uma magnitude que eu acho que isso não deve se repetir durante muitos anos. Outra coisa tão impactante é a esperança do povo gaúcho, esse sentimento de resiliência, esse sentimento de que "nós vamos recuperar". A gente compartilhou isso com muitas pessoas nas ruas, nos locais que a gente visitou.