O município de Rio Pardo, com uma história de mais de 250 anos e que dá nome a um dos principais vales do Rio Grande do Sul, está cercado e flagelado pelas águas de dois rios. O Jacuí, onde a cidade nasceu, e o Rio Pardo, um pequeno afluente que se torna caudaloso (e destrutivo) a cada chuvarada. Só que nunca antes tinha exibido tanta ferocidade quando nesta semana de dilúvio em terras gaúchas. Um terço das habitações da localidade ribeirinha está submersa.
O Rio Grande do Sul é atingido por um evento climático extremo e histórico nesta semana. A chuva intensa e constante causa inundações em diversas regiões, com danos à infraestrutura e 13 mortes já confirmadas.
Em Rio Pardo, a inundação afeta principalmente o bairro Ramiz Galvão, onde se situava uma importante estação ferroviária, mas outros oito bairros estão alagados. Essa parte da cidade está envolvida pelos rios Jacuí e Pardo, como um torniquete.
Milhares de pessoas estão sem luz, sem água e 900 delas tiveram de deixar suas casas. Empresas também foram inundadas, o que não impede os empresários de se solidarizarem com os conterrâneos.
Um deles é Janilson Luís Gomes, dono de uma empresa de locação de empilhadeiras. Ele perdeu muitas peças elétricas e mecânicas, mas usa suas máquinas para ajudar vizinhos que perderam tudo.
— É hora de pensar nos que têm menos que nós — justifica.
Perto da empresa dele, a cheia deixou casas com apenas o telhado de fora. Carros submersos também podem ser vistos.
Outro empresário que perdeu milhares de mercadorias é Ornélio Camargo da Silveira, dono de um supermercado. Ele e o filho Kristian solicitaram ajuda e outros comerciantes e conseguiram retirar da empresa três caminhões de produtos. Os mais valiosos e perecíveis. Mas precisaria de 10 carretas para conseguir tirar todos os alimentos estocados no prédio, calcula Kristian.
— Não salvamos nem 20% do estoque. Nunca vi algo assim, em quase 60 anos de vida e 30 anos à frente desse supermercado — desabafa Ornélio.
Próxima ao super, a balconista aposentada e dona de casa Sirlei dos Santos Cunha resolveu sair de casa às 11h desta quinta-feira (2), após resistir por três dias ao assédio das águas. Deixa para trás móveis, eletrodomésticos e muitas memórias.
— Saio só com a roupa do corpo, não tem como carregar tudo. Estou há 40 anos aqui e nunca alagou — descreve, com olhar baixo e voz sumindo.