O homem morto na quinta-feira (4) em Bagé após encostar em fio solto da CEEE Equatorial ficou por cerca de três horas recebendo choque elétrico. Segundo investigação da Polícia Civil, a primeira equipe que chegou ao local não portava luvas, alicate nem escada para desenergizar a rede de alta tensão.
Murilo Vieira dos Santos, 24 anos, recebeu a descarga elétrica por volta das 10h30min, mas a energia só foi desligada em torno das 13h30min. Os policiais apuram a possibilidade de ter ocorrido negligência ou desídia por parte da companhia, que antes do acidente havia sido avisada duas vezes da existência de um cabo energizado sobre a via.
— O rapaz já estava em óbito quando a CEEE chegou ao local, mas a equipe não tinha o equipamento necessário. Era um fio grosso de alta tensão e eles não tinham o equipamento. Tiveram de chamar outras equipes que foram lá para conseguir retirar o rapaz do cabo — afirma o delegado Caio Rodolfo Imamura, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Bagé.
O delegado já intimou os técnicos que estiveram no local, além dos plantonistas que trabalharam na noite anterior, quando Bagé foi atingida por um forte temporal. A investigação requisitou ainda cópia das solicitações de reparos feitas à CEEE durante o vendaval, bem como os chamados atendidos. A ocorrência inicial foi registrada como homicídio culposo.
Murilo está sendo velado nesta sexta-feira (5) e o sepultamento está previsto para as 17h, no Cemitério da Santa Casa de Caridade. O caso gerou forte comoção no município, sobretudo no meio rural, do qual ele fazia parte. Ele também está sendo homenageado com uma cavalgada pelos amigos e colegas de rodeio.
Murilo morreu quando levava 50 cabeças de gado para uma prova de tiro de laço que ocorreria nesta sexta-feira. Ele e três amigos conduziam a cavalo o lote por uma estrada vicinal da localidade do Passo da Alexandrina, a cerca de 15 quilômetros do centro de Bagé.
Murilo troteava à frente da boiada e não viu o cabo rompido no chão. Quando a égua que montava pisou no fio, caiu sobre o peão, que por sua vez ficou em cima do cabo. Ele ainda pediu ajuda aos amigos, que correram em seu socorro, mas também sofreram descargas elétricas por indução.
— Eu e outro amigo desmontamos e fomos ajudá-lo, mas recebemos um choque só de chegar perto. Outro colega, que vinha mais atrás, tentou laçar o Murilo para tirar de perto do cabo, mas ele também recebeu um choque quando a corda encostou no corpo — conta Kauã de Vargas Cunha, que acompanhava Murilo na tropeada.
Murilo, sua égua e o cavalo do laçador morreram no local. Kauã telefonou para a Brigada Militar, para o Samu e para a família de Murilo. Segundo ele, a CEEE Equatorial levou cerca de uma hora para chegar ao local. Como a primeira equipe não tinha equipamentos para desligar a energia nem para afastar Murilo do cabo rompido, outras equipes foram chamadas.
— Ficou todo mundo apavorado com o despreparo. Daí depois chegou um monte de gente da CEEE — conta Kauã.
Perfil
Aos 24 anos, Murilo era solteiro e sem filhos. Apaixonado pela lida campeira, trabalhava como peão de estância e participava de rodeios nas horas de folga. Filho mais velho de um casal de trabalhadores rurais, morava com os pais no bairro Ivo Ferronato.
— Era um guri tranquilo, trabalhador. Puxou o pai e o avô, que gostavam do campo e de CTGs. A família está muito abalada — diz o primo Erivelton Rodrigues dos Santos.
Familiares e testemunhas do acidente tinham depoimento marcado para esta sexta-feira, mas o expediente foi adiado para segunda-feira em função da forte comoção. Segundo o advogado da família, Roberto Ximendes Júnior, a CEEE Equatorial está arcando com os custos dos serviços fúnebres.
— Eles estão dando esse suporte solidário, mas estamos reunindo documentação para entrar com uma ação de responsabilidade civil contra a empresa — afirma Ximendes.
O que diz a CEEE Equatorial
A concessionária se manifestou por meio de nota:
"A CEEE Equatorial esclarece que, diferentemente do que vem sendo noticiado, a rede de energia elétrica em Bagé foi desligada oito minutos após o responsável pelas equipes da região receber o chamado, às 11h50 do dia 04/04. O procedimento aconteceu por telecomando, de forma imediata, quando ainda estava em deslocamento. Ao chegar, a rede já se encontrava desligada e ele acionou uma equipe de eletricistas, que foi até o local e aguardou o trabalho da perícia para, depois, trabalhar na recuperação da rede e restabelecimento da energia.
A empresa reforça que lamenta profundamente o ocorrido e solidariza-se com a família de Murilo Vieira dos Santos, tendo prestado apoio e suporte aos familiares.
A CEEE Equatorial colabora com as investigações e aguarda, com prudência e responsabilidade, os desdobramentos dos fatos."