Com praticamente todo o perímetro urbano embaixo d'água, São Sebastião do Caí, no Vale do Caí, contabiliza 426 pessoas desabrigadas na tarde desde domingo (19). De acordo com a prefeitura, o Rio Caí alcançou a cota de 16 metros durante a madrugada, o maior registro na história do município. Na medição do meio-dia estava em 15,55m e seguia baixando. São 1.366 resgatados pelos bombeiros militares e voluntários.
— A gente está acostumado com enchente, mas igual a essa ainda não tínhamos visto. É a maior em 148 anos — afirma o chefe da Defesa Civil do município, Enio dos Santos.
Resgatado de barco por voluntários, o marceneiro Mauro Flores, 64 anos, lembra os momentos de angústia vividos durante a madrugada, quando o rio transbordou, alagando todos os quarteirões num raio de 1,5 quilômetro a partir da região ribeirinha.
— Eu comecei a tremer, tremer. Subi em cima da mesa e deitei — conta Flores.
O Caí já estava acima da cota normal desde o início do mês, mas subiu vertiginosamente na última noite. A medição do Corpo de Bombeiros havia registrado 11,64m na segunda-feira, quando 22 pessoas já haviam deixado suas casas. Às 4h deste domingo, a régua atingiu 16m. Quatro bairros foram mais afetados: Navegantes, Quilombo, Rio Branco e Vila Rica. No Centro, a parte mais alta da cidade ficou ilhada, com acesso apenas de barco. Boa parte da zona urbana está sem energia elétrica.
De acordo com a Defesa Civil, 103 famílias foram levadas para quatro abrigos comunitários. Um dos ginásios onde algumas pessoas estavam sendo acolhidos também acabou alagado, desalojando novamente o grupo. A prefeitura convocou profissionais de saúde, como médicos e psicólogos, para auxiliar no atendimento.
Um helicóptero da Brigada Militar passou a manhã resgatando pessoas do alto de casas. A água alcançou as duas margens da Avenida Bruno Cássio, que dá acesso ao município, e por pouco não invadiu a via.
Assustados, os moradores se reuniam nas esquinas, ajudando no resgate. Bombeiros de cidades vizinhas também se somaram ao socorro aos atingidos. Mais perto do leito do rio, um bote da Patrulha Ambiental virou com a força da correnteza. As embarcações dos bombeiros também enfrentam dificuldade de navegar, devido à força das águas. A prefeitura aguarda a chegada de tropas do Exército, dotadas de barco com motores mais potentes.
Ainda na madrugada de sábado, a Defesa Civil começou a avisar a população de que o Rio Caí transbordaria. Em casa, o aposentado Valdir dos Santos começou a subir os móveis. Por volta das 15h, deixou o imóvel com a mulher e o filho, Matheus Santos, rumo à casa de uma tia. Na manhã deste domingo, ele voltou para ver os estragos.
— Meu Deus. A água chegou nas janelas, está tudo embaixo d'água lá dentro — lamentou, observando a correnteza que passava diante do imóvel na Rua 1° de Maio.
Angustiado para socorrer os cães que haviam sido deixados na residência, Matheus mergulhou na água barrenta e nadou por 50 metros até o local, mas teve de voltar após sofrer uma descarga elétrica.
— Não consegui ver os cachorros. Tomei um choque na janela e voltei — relata.
Moradora da Rua São João, no Centro, a servidora pública Cláudia Klering, 47 anos, saiu de casa com a água no pescoço. Ela enviou as duas filhas e o neto para a casa de parentes e ficou tentando salvar os móveis, mas acabou abandonando o local quando verificou que a enxurrada já tomava conta de tudo.
— Moro aqui desde que nasci e a água nunca havia subido tanto. Nem voltei em casa ainda, devo ter perdido tudo, mas estamos vivos — desabafa a servidora, abrigada no segundo pavimento de uma casa vizinha.