A Rua Marechal Floriano, no centro de Muçum, no Vale do Taquari, virou ponto de encontro de vários voluntários de todo o Rio Grande do Sul. Nesta sexta-feira (15), muitos deles estavam enlameados e com enxadas nas mãos. Vieram de lugares distintos, como Sapucaia do Sul, Igrejinha, Três Coroas e São Leopoldo.
— A gente viu pela televisão que estava tudo destruído e viemos dar uma força — conta Alexsander Almeida de Vargas, 27 anos, que trabalha como monitor em uma clínica de dependentes químicos.
A dona de casa Mariana Mello, 34, era outra voluntária que limpava a rua. Chegou com amigos para ajudar na cidade. Neste trecho, o rio atingiu 2m50cm. As marcas estão em paredes de vários pontos do local.
— É gratificante, porque poder ajudar te coloca no lugar das pessoas — diz Mariana.
Para o microempresário Ricardo Knak, 23, a maior satisfação é auxiliar quem necessita.
— Espero que se recuperem logo — comenta, com marcas de lama até no rosto.
Enquanto todos trabalhavam, Elton Troian, 58, chorava sem conseguir transmitir seu sentimento em palavras. Ele é o proprietário de uma mecânica na rua. Os voluntários limpavam tudo lá dentro e também na fachada do imóvel.
— É muito emocionante. Não existe mais ricos e pobres. Quero agradecer a esse grupo — desabafou, visivelmente emocionado.
Também há muitos caminhões do Exército e soldados do 6º Batalhão de Engenharia de Combate de São Gabriel espalhados pelos bairros de Muçum.
Uma das casas estava sendo limpa por Ranieri Zilio Moriggi, 37, que vive em Bento Gonçalves há dois anos. Ele voltou para Muçum para ajudar a mãe Neusa, 72, que ficou na residência de dois pisos sozinha enquanto o Rio Taquari subia. A idosa precisou aguardar as águas baixarem para poder sair de casa. Ela caiu durante as cheias e quebrou um dente.
— Foi um pavor. Vi uma caminhonete rolando na rua — recorda ela.
— Perdemos tudo aqui embaixo. Só sobrou o tapete — acrescenta o filho, que limpava o item de decoração com uma mangueira lava-jato.
Apenados auxiliam na limpeza de Muçum
Trinta e sete apenados do sistema prisional de Montenegro, Lajeado, Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Encantado e também da região da 7ª Delegacia Penitenciária ajudam na limpeza das ruas.
— A importância para os apenados é eles se sentirem incluídos e úteis dentro da sociedade — afirma o diretor do Presídio Estadual de Lajeado, Ricardo Tessmann. — Esses presos já exerciam atividades de limpeza e alimentação dentro do regime prisional — completa.
Situação nesta sexta-feira
A Defesa Civil de Muçum estima que 80% da área urbana ficou submersa pelo Rio Taquari durante a cheia da semana passada. Cerca de 500 pessoas permanecem em abrigos espalhados pela cidade.
O fornecimento de luz e água está reestabelecido em 95% de todo o município. Há alguns problemas no interior e dentro da cidade em função de contratempos na tubulação. O Departamento de Água Municipal trabalha para resolver a situação.