Dezessete alertas meteorológicos preventivos foram enviados, da última sexta-feira (1) até esta terça (5), para a população gaúcha. A informação é do governo do Estado. Os comunicados foram feitos via SMS, mensagens de texto de celular, chamando a atenção para as condições de tempo severo. No entanto, os avisos não deram conta da dimensão dos transtornos que seriam registrados.
A constatação foi feita pelo próprio governador do Rio Grande do Sul em entrevista ao Gaúcha+ desta quarta-feira (6). Questionado sobre os alertas não terem dado a real dimensão dos problemas que se avizinhavam, Eduardo Leite respondeu que "não adianta procurar culpados agora".
— O ponto objetivo é que foram feitos os alertas, mas não existe alerta e previsão que dê a dimensão do que poderia acontecer aqui. Os modelos e as previsões que são disponibilizados apontavam volumes de chuva que causavam preocupação nessas cidades. Existem localidades que ficam mais à beira do rio que já estão acostumadas até com isso. E já se emite o alerta para fazer a remoção dessas famílias. Mas não se imaginava que fosse ter o volume de chuva que teve.
Pelo menos 79 municípios gaúchos foram atingidos pela instabilidade desde o último domingo (3), quando teve início o levantamento realizado pela Defesa Civil. Chuvas intensas, queda de granizo e alagamentos ocorreram em várias localidades, atingindo mais de 56 mil pessoas. Além disso, rios passaram da cota de inundação, principalmente no Vale do Taquari, deixando cidades debaixo d'água. O último levantamento estadual dá conta de 37 óbitos. Ao menos 1.777 pessoas foram resgatadas – e o número não para de aumentar.
Leite ressaltou que o governo sempre estará em busca de meios que possibilitem a divulgação de "alertas mais eficientes, com cálculos refinados, para mais proteção, mas foi uma situação que fugiu completamente do que era esperado e apresentado nos modelos matemáticos, nas previsões que foram ofertadas na semana passada".
De acordo com a Defesa Civil gaúcha, o número de pessoas cadastradas no sistema de alertas por SMS não chega a 7% da população do Rio Grande do Sul. No entendimento do órgão, é necessária a criação de uma cultura de prevenção na sociedade e o uso de ferramentas como essa, disponível gratuitamente, faz parte desse processo.
Ouça a entrevista:
Uma soma de fatores
Na opinião do governador, uma série de fatores tem contribuído para a ocorrência de fenômenos climáticos mais severos no Estado. No entanto, "não tem um botão que a gente aperta a resolve". A declaração foi feita em resposta à pergunta sobre o que é necessário ser feito para evitar novas tragédias.
— É claro que nas áreas de risco temos que fazer remoção, é claro que existem as mudanças climáticas. Nós não somos uma ilha. Não existe um clima do Rio Grande do Sul que é causado pelo Rio Grande do Sul. É a consequência de todas as ações do homem no planeta, que gera umidade aqui, consequentemente pouca chuva em outro lugar, que gera situações de esfriamento em determinadas localidades, que acaba trazendo seca ou chuvas demais para outras regiões. O planeta é uma coisa só. Mas também temos que fazer a nossa parte.
Segundo Leite, são necessárias ações de enfrentamento às mudanças climáticas, mas também a formação de cidades mais resilientes. Os riscos, portanto, precisam ser cada vez mais levados em consideração em intervenções de engenharia e planejamento urbano.
— Vamos robustecer investimentos, certamente, na Defesa Civil, nos instrumentos, equipamentos, softwares, nas ferramentas disponíveis para podermos enfrentar o que vier pela frente. Nós já temos feito isso, na medida do possível, nos últimos anos, e vamos intensificar para poder proteger ainda melhor as nossas cidades e a nossa gente.