Em entrevista ao Gaúcha Mais, o capitão Thalys Rian Stobbe, comandante do Corpo de Bombeiros de Lajeado, que integra o grupo de servidores que atua nas missões de busca e resgate da tragédia do Vale do Taquari, disse que não recebeu alertas específicos, nas horas anteriores a cheia (4 de setembro), dando conta de que havia uma alta excepcional de outros rios que se conectam com o Taquari.
— A informação que eu recebo aqui como comandante local são os alertas da Defesa Civil. Então a gente já sabia que haveria algum evento. Tanto que a gente reforçou, a gente trouxe algumas embarcações para Encantado. No intuito, então, de garantir uma primeira resposta. Só que eu não tinha como... Realmente, assim, não teve algo como: “olha, vai subir sete metros em três horas”, “vai subir dois metros por hora”, “vai atingir a cota máxima de 30 metros em Lajeado”. Essa informação eu realmente não recebi — contou Stobbe.
Na terça-feira, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) emitiu uma nota na qual afirma que dados envolvendo o Rio das Antas e o acumulado de chuvas naquela região permitiam saber, com horas de antecedência, que havia potencial de desastre no Vale do Taquari, como ocorreu na semana passada. No documento, o instituto também avalia que o sistema de prevenção e alerta à população não funcionou adequadamente.
Em nota (confira a íntegra abaixo), o governo gaúcho informa que o Estado conta com um sistema eficaz de monitoramento e alertas para casos de eventos climáticos extremos considerados dentro da normalidade. No entanto, a manifestação oficial afirma que em casos de situações climáticas como a que atingiu o Vale do Taquari, a gravidade "não tem precedentes". O governo cita, ainda, que já "havia iniciado um mapeamento de novas tecnologias e sistemas utilizados em outros Estados e países, no objetivo de verificar a viabilidade da implantação em território gaúcho o "mais breve possível".
Stobbe, nascido em Lajeado e acostumado a atuar em enchentes na região, contou nunca ter visto nada parecido com a velocidade com que a água do rio subiu.
Telefone tocava sem parar
Thalys relembrou que os primeiros chamados acerca da cheia do Rio Taquari começaram ainda na tarde de 4 de setembro.
— As primeiras ligações entraram pelas cinco e meia, seis da tarde de segunda-feira. E foi o momento do pico, foi o momento que o rio começou a subir, e ele subiu assustadoramente.
Conforme o bombeiro, entre o fim da tarde do dia 4 e a manhã do dia 5 foi ininterrupto o fluxo de ligações com pedidos de ajuda.
— O telefone do quartel não parou de tocar. Impressionante. Era mais ou menos sete da noite (de segunda-feira, dia 4 de setembro). E até as seis da manhã do dia 5, o telefone não parou.
Buscas prosseguem
Na entrevista, o bombeiro destacou que a corporação manterá as buscas até que todos os desaparecidos sejam localizados.
— É uma operação bastante complexa, as pessoas não têm muita dimensão disso. Mas essa enxurrada dá mais ou menos quatro vezes a área de Brumadinho. Então, nós estamos falando de uma área territorial muito grande. Nós já encontramos, 47 vítimas e restam nove desaparecidos. A gente vai (manter as buscas) até a última vítima, isso é ponto. A gente não vai descansar até que encontre o último desses, né? Temos no terreno hoje 204 militares em busca desses nove desaparecidos — detalhou.
Confira nota do governo do Estado na íntegra
O SGB, Serviço Geológico do Brasil - antigamente chamado de CPRM-, realiza o levantamento de áreas vulneráveis para deslizamentos, conforme classificação geológica e capacidade de resistência a eventos climáticos severos. No Rio Grande do Sul, o SGB já realizou mapeamento de áreas de risco em 59 municípios.
Com base nesses dados, o Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, monitora municípios em todas as regiões brasileiras.
Os alertas emitidos pelo Cemaden são encaminhados para as Defesas Civis estaduais que, por sua vez, repassam para as municipais. No dia 4 de setembro, o Cemaden emitiu 48 alertas entre 0h12 e 5h45, de risco moderado ou alto, para diferentes regiões do Rio Grande do Sul, alertas esses que foram repassados aos órgãos competentes.
Além disso, o Rio Grande do Sul possui a Sala de Situação, que presta serviço de monitoramento hidrometeorológico e atua de forma articulada com a Defesa Civil e a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura Estadual. A equipe da Sala de Situação trabalha em regime de plantão 24/7 e é composta por meteorologistas e hidrólogos.
São empregadas diversas tecnologias de monitoramento e análise das informações obtidas por meio de radares, satélites e estações meteorológicas, propiciando o adequado monitoramento das condições de chuvas, nível de rios e incidência de ventos no Rio Grande do Sul. Quando são identificadas condições que ofereçam risco, são elaborados alertas, levando-se em consideração a severidade de cada evento adverso.
Assim, a Sala de Situação envia a informação de risco ao Centro de Operações da Defesa Civil (Codec), que emite o alerta às pessoas cadastradas no 40199. Os alertas também são publicados no site da Defesa Civil Estadual, bem como nas redes sociais institucionais e, por meio das nove Coordenadores Regionais de Proteção e Defesa Civil, também alcançam os municípios.
Desde o dia 28 de agosto até as 12h44min do dia 8 de setembro, a Sala de Situação produziu e enviou 20 boletins, três avisos hidrometeorológicos e 19 alertas que geraram mensagem via SMS à população.
O Estado conta com um sistema eficaz de monitoramento e alertas para casos de eventos climáticos extremos considerados dentro da normalidade. No entanto, para os casos de situações climáticas como a que atingiu o Vale do Taquari, em que a gravidade não tem precedentes, o governo já havia iniciado um mapeamento de novas tecnologias e sistemas utilizados em outros Estados e países, para verificar a viabilidade da implantação em território gaúcho o mais breve possível com o objetivo principal de preservar vidas humanas.
Estão previstas no Plano Plurianual a contratação de serviço de satélite para monitoramento meteorológico, a ampliação do número de áreas de risco a serem monitoradas pela CPRM - Serviço Geológico do Brasil e a criação do Centro Estadual de Gestão Integrada de Riscos e Desastres.