Preparação para desastres naturais extremos foi o tema do Painel RBS Notícias, realizado nesta quarta-feira (28), no Instituto Caldeira, em Porto Alegre.
O evento reuniu autoridades e especialistas para discutir os principais desafios, como resgate de moradores e os prejuízos econômicos causados por fenômenos naturais, como o último ciclone extratropical que atingiu o Estado e deixou 16 pessoas mortas entre os dias 15 e 16 de junho.
O debate foi mediado pelo jornalista Elói Zorzetto e transmitido ao vivo pelo portal g1 e pela GZH. Participaram do evento Gabriel Souza, vice-governador do Rio Grande do Sul; Luciano Orsi, presidente da Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs); Francisco Aquino, climatologista e professor da UFRGS, e Joel Avruch Goldenfum, diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS.
Desafios
O vice-governador abriu o debate se solidarizando com os moradores que perderam familiares na tragédia. Gabriel Souza enfatizou que o governo estadual está cada vez mais trabalhando para prevenir e diminuir esses danos.
O vice-governador alerta que há uma necessidade de mudança de cultura da população em relação aos avisos oficiais dos órgãos públicos. De acordo com ele, apenas 6% da população gaúcha, em torno de 30 mil pessoas aproximadamente, tem cadastrados seus celulares no sistema de informação da Defesa Civil.
— Fica o apelo para que as pessoas procurem ter seu telefone cadastrado. A gente precisa muito que as pessoas se cadastrem, mas também acreditem nos alertas. Esses alertas, quando enviados, devem ser considerados e levados em conta, em especial quando vem de canais oficiais. Depois de receber o alerta é também importante entender como proceder. A partir daí entram os planos de contingência que os municípios devem formular, que são fundamentais para que haja treinamento prévio das pessoas para saber para onde se dirijam — afirmou.
Luciano Orsi, presidente da Famurs, destacou a importância do trabalho do município na própria gestão, como limpeza de bueiros, entre outras questões importantes no escoamento da água. Mas afirma que o nível que a água atingiu foi além do considerado normal. Luciano coloca como urgente a realocação das famílias em risco.
— É importante a gente observar e é necessário que a gente, gradativamente, vá retirando as famílias desses locais, mas precisamos para isso ter uma política de recursos habitacionais. Muitas vezes as famílias estão lá porque era um custo menor e decidiram seguir, mesmo de forma irregular, alojar sua família. Isso é natural e acontece principalmente nos municípios da região metropolitana, nos municípios mais habitados — explica.
Já o climatologista e professor da UFRGS, Francisco Aquino, explica que o Estado tem na sua característica climática todos os tipos de evento possíveis. Segundo ele, o que vai variar é a intensidade, o momento ou a localidade onde esse evento ocorre.
— Com a mudança climática atual todos os fenômenos, todos eventos se amplificaram, se intensificaram. Esses eventos são potencializados em áreas de densa ocupação populacional, em áreas de maior vulnerabilidade e especificamente nesse caso, onde a topografia, o relevo multiplica por uma dezena de vezes a força da água. Então o grau de destruição é maior, muito maior, é uma combinação — contextualiza o professor.
Além disso, Aquino comenta que o RS é o Estado em escala nacional que mais passa por situações de desastres naturais.
— O relatório da Organização Meteorológica Mundial deste ano para os últimos 50 anos no planeta Terra destaca o Brasil, na América do Sul e o Sul do Brasil — afirma.
Assim como o vice-governador, ele comenta sobre a importância de acreditar nos alertas oficiais.
— Temos os dados novos do censo brasileiro, o RS passa de 10 milhões de habitantes. Só em Porto Alegre nós temos mais de 84 mil pessoas em áreas de riscos e me espanta saber que o número de telefones cadastrados para o alerta não passa de 7 mil. Esse é um número que não representa 10% das pessoas que estão em risco na capital — completa.
Por fim, Joel Goldenfum, diretor do IPH da UFRGS, comentou que os baixos recursos para monitoramento das águas acabam gerando consequências em momentos como esse.
— Foi dito aqui, a água está subindo mais e a população não abandona porque ela tem medo de perder as suas posses por saques. Para que a gente possa conhecer, para que a gente possa compreender nós precisamos de dados. Nós temos uma carência de monitoramento, principalmente na parte hidrológica, muito grande. Nós temos falta de estações onde a gente vai medir a variação do nível da água. A partir da variação do nível da água, a gente passa a compreender ao mesmo tempo a informação da chuva. Tendo uma resposta determinada da chuva, a gente consegue trabalhar com modelos e esses modelos vão nos indicar o que pode ser feito — conclui.