Até o fim de julho, a cidade de Sobradinho, no Vale do Rio Pardo, entrará para a lista de municípios gaúchos com esculturas gigantes de Jesus Cristo. Segundo a prefeitura, as obras para a construção do Cristo Acolhedor, iniciadas em dezembro do ano passado, já estão 80% concluídas.
De braços abertos para o Vale, a escultura terá 20 metros de altura, mais quatro de base, somando 24 metros e pesando cerca de 520 toneladas. A imagem fica às margens da RS-400, na localidade de Granja do Silêncio, em um ponto elevado, próximo ao trevo de acesso à cidade.
Com a base de concreto já instalada, a previsão é de que os braços e a cabeça da imagem sejam içados no dia 10 de maio. A obra tem custo previsto em edital de R$ 1,4 milhão. A empresa vencedora da licitação para a execução da obra foi a incorporadora Realize, de Santa Cruz do Sul.
Até esta quarta-feira (26), já foram utilizadas 15 toneladas de vergalhões de ferro, 8,5 mil quilos de vigas metálicas e 70 metros cúbicos de concreto, divididos entre as estruturas e a escultura. O que ainda falta é a parte da roupa e o revestimento da obra.
O terreno com seis mil metros quadrados onde a imagem está sendo erguida foi doado à prefeitura pelo empresário Tuki Siman. O prefeito, Armando Mayerhofer, diz que aguarda uma emenda parlamentar para implementar melhorias no entorno da imagem.
— Estamos com uma emenda garantida no valor de R$ 500 mil para fazer investimentos no entorno do Cristo como a criação de estacionamento, floreiras, etc, e há um projeto da iniciativa privada para a criação de restaurante em um paradouro — comenta o prefeito.
Fé e inspiração
Segundo o prefeito Armando Mayerhofer, a construção do Cristo foi uma das metas de campanha dele quando eleito, em 2020. A inspiração do chefe do Executivo veio após uma viagem ao Rio de Janeiro em que visitou o Cristo Redentor. Ele lembra que ficou impressionado com a quantidade de turistas e fiéis que passavam pelo local e projetou uma obra semelhante para Sobradinho caso se tornasse gestor do município.
Ele conta que, à época, não sabia do projeto do Cristo Protetor, de Encantado, no Vale do Taquari. Quando soube, no entanto, viajou até Encantado para conhecer a imagem que já recebeu visibilidade nacional e se tornou ponto turístico do RS.
Quando chegou ao município do Vale do Taquari, o prefeito descobriu uma coincidência. O profissional responsável pela criação do Cristo Protetor, Artur Lopes de Souza, é natural de Sobradinho. Ele procurou Souza, que se dispôs a ajudar a empresa vencedora da licitação na obra.
— Eu não queria mais trabalhar com esse tipo de obra depois do Cristo de Encantado, mas como o prefeito me pediu e eu sou da cidade, resolvi aceitar. É muito gratificante. Agora a gente vê a quantidade de gente que vem aqui ver o Cristo de Encantado e se sente feliz de poder ajudar na fé das pessoas. Lá vai ser mais um ponto de fé — comenta Souza.
Turismo religioso
Além de estimular a fé da comunidade, a escultura também é uma estratégia da prefeitura para fomentar o turismo religioso e atrair visitantes para Sobradinho e região.
— Hoje, mesmo com a imagem estando em obras, já recebemos muitos visitantes, principalmente nos finais de semana. Temos duas vinícolas, igrejas, festivais de gastronomia, a rota dos casarões, somos a maior cidade da região Centro-Serra. Com isso, queremos criar um grande roteiro turístico na região, para que as pessoas também visitem os municípios vizinhos — diz o prefeito.
Trabalho em família
O artista responsável pelo Cristo Acolhedor é o escultor Markus Moisés Rocha Moura, 43 anos. Natural de Fortaleza, no Ceará, o artista, que também foi responsável pelo Cristo Protetor, de Encantado, pontua algumas diferenças entre as duas imagens.
— Este Cristo daqui está com as mãos um pouco fechadas e erguidas para dar ideia de acolhimento. Outra diferença é que o manto do Cristo de Encantado está enrolado no corpo e esse tem o manto solto, como uma capa, nas costas. Cada Cristo tem a identidade da sua cidade — sublinha.
Além de Markus, outros membros da família Moura também trabalham na escultura, como o irmão Matheus, alguns primos e o pai Genésio Gomes Moura, 68 anos, que foi a inspiração para os filhos.
— Tudo começou lá em Fortaleza, onde meu pai trabalhava com o tio dele e aprendeu a esculpir na madeira. Viemos para o Sul, em Itajaí (SC) na década de 1980. Esse Cristo está sendo diferente do outro (de Encantado), que era um trabalho do meu pai, mas ele adoeceu e eu concluí. Agora, ele se recuperou e como eu peguei esse trabalho eu quis deixar ele dar uma aula de arte — comenta o artista.
A família Moura já construiu pelo menos 10 estátuas de Cristo em diferentes pontos do Brasil. O primeiro trabalho artesanal de Markus, aos 24 anos, foi o Cristo Redentor construído na cidade de Elói Mendes, em Minas Gerais, em 2006. Com 39 metros de altura, este foi o primeiro a ultrapassar o Cristo carioca, que tem 30 metros de altura e oito de base.
Atualmente, ele trabalha em outra estátua do Cristo, desta vez em Alagoas, que pretende ser a maior do mundo, com 70 metros de altura, sendo 10 metros de base e 60 de Cristo. Em termos comparativos, o Cristo de Encantado, por exemplo, tem 37,5 metros de altura e seis de base (43,5 metros no total).
É muito gratificante ver o brilho no olhar das pessoas quando elas vêm cumprimentar com lágrimas nos olhos, te agradecer.
MARKUS MOISÉS ROCHA MOURA, 43
Escultor responsável pelo Cristo Acolhedor de Sobradinho
Moura diz que que o esboço da obra não foi feito em papel, está apenas na cabeça dele. Ele acrescenta que fica emocionado quando recebe o reconhecimento da comunidade pelo trabalho:
— É muito gratificante ver o brilho no olhar das pessoas quando elas vêm cumprimentar com lágrimas nos olhos, te agradecer. É muito emocionante saber que é você quem está mexendo com a fé das pessoas.