A Polícia Civil do Rio Grande do Sul não para de receber relatos de pessoas que se dizem vítimas do cirurgião João Couto Neto, 46 anos. Conforme o delegado Tarcísio Kaltbach, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, subiu para 82 o número de boletins de ocorrência registrados por pessoas que afirmam ter tido lesões ou mutilações após procedimentos feitos pelo médico. Além disso, de quarta-feira (29) para quinta-feira (30), os investigadores receberam a informação de mais uma morte que teria acontecido após intervenções feitas pelo cirurgião, subindo de 20 para 21.
O delegado já adiantou que deverá indiciar o cirurgião por homicídio com dolo eventual — quando a pessoa assume o risco. Tarcísio Kaltbach ainda não tem provas suficientes se o médico teria agido de forma intencional, neste caso, podendo caracterizar o homicídio doloso, quando há intenção de matar.
Desde 12 de dezembro, o médico está afastado de cirurgias e intervenções invasivas, o que se estenderá por 180 dias. O consultório está fechado e ele responde ao processo sem poder se ausentar da Comarca.
No início do mês, o Hospital Regina, uma das instituições onde o médico atuava, informou à imprensa que foi formada comissão para apurar internamente os fatos. A medida ocorreu no mesmo dia em que houve um protesto na instituição. Nessa quarta-feira (28), o hospital mandou nota na qual afirma que está "colaborando com as autoridades na investigação" (leia a íntegra abaixo).
Contraponto
O advogado de João Couto Neto, Diego Mariante, disse que vai se manifestar assim que tomar conhecimento da íntegra do inquérito policial.
Leia na íntegra nota de esclarecimento do Hospital Regina:
Promover saúde com a melhor experiência no cuidado é a missão do Hospital Regina nestes quase 93 anos de atuação em Novo Hamburgo. Assim, em respeito à comunidade, colaboradores, corpo clínico e pacientes, vimos a público esclarecer que, desde o último dia 12, estamos colaborando com as autoridades na investigação das acusações envolvendo o médico João Batista do Couto Neto.
A Instituição já finalizou a entrega da documentação médica solicitada pela justiça, mas desconhece o inquérito policial, uma vez que o processo corre em segredo de justiça e tem como foco da investigação o médico, não o Hospital.
No mandado de busca e apreensão apresentado pela Polícia Civil são citados 14 nomes de pacientes deste médico. No entanto, deste total três pacientes realizaram somente exames no Hospital Regina e das 11 pessoas que realizaram cirurgia, quatro formalizaram relato na Ouvidoria referente ao atendimento prestado pelo referido médico. As reclamações foram prontamente acolhidas e uma delas, inclusive, foi encaminhada à Comissão de Ética do corpo clínico.
Esclarecemos, ainda, que o Dr. João Couto faz parte do Corpo Clínico aberto do Hospital e não possui vínculo de trabalho via CLT ou contrato de prestação de serviço com a Instituição. Neste caso, o médico cirurgião utiliza a estrutura do hospital para exercício da sua profissão. O Hospital não indicou nem elegeu o médico João Batista do Couto Neto. Todos os procedimentos que constam no mandado policial e que estão sob investigação foram realizados pelo referido profissional, o qual foi escolhido pelos pacientes para realizar os procedimentos através dos convênios e meios particulares.
Reiteramos que o atendimento médico hospitalar, sendo ele clínico ou cirúrgico, realizado dentro da Instituição obedece a protocolos bem definidos de qualidade e segurança do paciente e são acompanhados por uma equipe multiprofissional especializada. Preocupados em sempre oferecermos o melhor cuidado e uma assistência focada em excelência, estamos em processo de acreditação hospitalar, para certificação na metodologia canadense QMentum International™.
A Instituição, ao longo de quase um século de vida, reafirma o seu compromisso no cuidado e na excelência dos serviços prestados por seus mais de 1.400 colaboradores e 700 médicos do corpo clínico, tendo o paciente no centro do nosso cuidado. Com toda sua expertise, o Hospital realiza, em média, 1.750 cirurgias por mês nas mais diversas especialidades. Além disso, são cerca de 10 mil exames médicos realizados por mês.
O Hospital Regina lamenta, profundamente, os fatos relatados e informa que prontamente criou uma Comissão de Comunicação Interna para acolhida e escuta dos representantes dos pacientes e familiares.
Direção do Hospital Regina